Homens de bem que por alguma razão enveredam pelo caminho das sombras, mantendo vivo o discernimento sobre o certo e o errado, tem lugar garantido na preferência do espectador e sustentam essa vasta categoria de filmes que exploram até a última gota de sangue a estética do falso messias que a muito custo redime apenas a si mesmo. O iraquiano-dinamarquês Fenar Ahmad entrou para o clube com “Darkland” (2017), contando a história de um médico bem-sucedido cujo irmão caçula é assassinado numa disputa entre gangues.
Seis anos depois, Zaid, esse homem descorçoado ao termo de uma longa batalha por justiça, está também ele imbricado no submundo de Copenhague, até parar na cadeia, saga maldita que Ahmad esmiúça em “Darkland: O Retorno”, com direito a toda violência de uma legião de espíritos fragmentados. O diretor e o corroteirista Behrouz Bigdeli tiram da cartola retrocedem ao primeiro filme na intenção de dar explicações pontuais sobre o infortúnio do protagonista, e então acrescentar os elementos que fazem a diferença agora, sem limitar a narrativa para quaisquer outras possibilidades.
A vida no crime demanda alguns predicados. Zaid envereda por esse caminho tortuoso movido pela vontade de resgatar o irmão, mas parece não ser sagaz o bastante para pensar em alternativas na hora em que o plano infalível faz água. Essa operação ambiciosa, escondendo armadilhas com as quais talvez nunca cruzasse em outras circunstâncias, faz desabar-lhe sobre a cabeça o novo mundo que o aprisiona, de mais atribulações, de mais apuros, e ele o desbrava, no seu próprio tempo, sonhando sempre alto demais quando se está do lado oposto ao da sorte.
Dar Salim ainda é a melhor opção para dar vida a esse anti-herói equilibrado, que continua a segurar a audiência e saciar nela o legítimo desejo de crer em alguma coisa. Esse personagem tão rico de nuanças e que se joga sem nenhum receio nos abismos profundos de sua alma quase morta lembra figuras memoráveis do cinema como Donnie Brasco, o agente do FBI que se infiltra na máfia e precisa aprender a suportar os efeitos dessa experiência no filme de Mike Newell lançado em 1997, ou até o Travis Bickle de Robert De Niro em “Taxi Driver” (1976), a obra-prima de Martin Scorsese sobre tipos da escuridão, desajustados, sem os quais a vida seria bem mais infernal.
Filme: Darkland: O Retorno
Direção: Fenar Ahmad
Ano: 2023
Gêneros: Thriller/Ação
Nota: 8/10
