Para inteligente, filme com Jeffrey Wright indicado a 5 Oscars em 2024, está no Prime Video Divulgação / Metro-Goldwyn-Mayer

Para inteligente, filme com Jeffrey Wright indicado a 5 Oscars em 2024, está no Prime Video

A arte antirracista desempenha um papel fundamental ao permitir que indivíduos negros debatam questões, denunciem injustiças, revelem situações e expressem emoções para um público que talvez jamais compreendesse suas experiências. No filme “Ficção Americana”, dirigido por Cord Jefferson e produzido pelo Prime Video, indicado a cinco Oscars, esse tema é explorado de maneira provocadora: é necessário que toda arte criada por pessoas negras aborde temas raciais? Até que ponto isso satisfaz um mercado predominantemente branco? Essas questões, que pessoalmente nunca me ocorreram, são abordadas por Jefferson, um cineasta negro, em sua notável estreia na direção.

A trama segue Thelonious Monk Ellison (Jeffrey Wright), um professor universitário que se encontra em apuros após ser denunciado por seus alunos devido ao seu estilo de ensino direto e vocabulário explícito. Essa abordagem provoca desconforto na comunidade acadêmica, que Monk acredita estar excessivamente sensível.

Além de professor, Monk é um escritor com algumas obras publicadas, mas há tempos não consegue lançar novos livros. Ele percebe que a sociedade parece preferir escritores negros que tratem exclusivamente de antirracismo. Para Monk, esse tipo de arte apenas reforça estereótipos e atende a um público branco interessado em parecer engajado, mas superficialmente. Para ele, esse movimento se tornou vazio e hipócrita.

Ao apresentar um novo manuscrito ao seu editor, Arthur (John Ortiz), Monk é informado de que seu trabalho não atende às expectativas do mercado, que demanda literatura “negra”. Monk rebate dizendo que, como homem negro, seu livro é, portanto, literatura negra. Contudo, o mercado parece ansiar por obras mais panfletárias sobre a luta racial. Revoltado, Monk decide escrever uma sátira sobre o tema, utilizando um pseudônimo. Inesperadamente, o livro se torna um sucesso, colocando Monk em um dilema ético e profissional.

O filme levanta a questão: se o ser humano é político, a arte deve ser igualmente? Embora o filme não ofereça respostas definitivas, ele incita a reflexão. Paralelamente, a narrativa critica implicitamente a arrogância intelectual do protagonista. Monk se vê como alguém mais autêntico, inteligente e profundo que os outros, e essa petulância o leva a comportamentos machistas com as mulheres de sua vida, como sua irmã Lisa (Tracee Ellis Ross), seu interesse romântico Coraline (Erika Alexander) e sua rival literária Sintara Golden (Issa Rae). Sua atitude também afeta seu relacionamento com o irmão gay, Clifford (Sterling K. Brown).

Jeffrey Wright entrega uma atuação brilhante, trazendo à vida um personagem complexo e cheio de camadas, que exibe tanto qualidades positivas quanto negativas, vivendo conflitos internos e externos. Ele é ao mesmo tempo bom e maldoso, sabotando sua própria felicidade e sucesso devido a questões não resolvidas do passado, incluindo um pai ausente, sintomas de depressão e frustrações profissionais.

“Ficção Americana”, no Prime Video, é um filme centrado em um personagem principal, cuja profundidade e desenvolvimento exigem uma performance excepcional, algo que Wright realiza com maestria. O filme provoca debates ricos e reflexões, e mesmo que possamos discordar de alguns pontos, a discussão que ele gera é valiosa.


Filme: Ficção Americana
Direção: Cord Jefferson
Ano: 2024
Gênero: Drama/Comédia
Nota: 9