Último dia na Netflix: a história de amor que consagrou Kate Winslet e ganhou 18 prêmios internacionais, incluindo 1 Oscar Divulgação / Columbia Pictures

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Quando Jane Austen (1775-1817) publicou “Razão e Sensibilidade”, ela ainda estava longe de ser considerada uma romancista estabelecida. Com apenas vinte anos, Austen possuía uma compreensão limitada da sociedade da época, sendo confrontada com um cenário onde o desejo de modernidade era frequentemente abafado por tradições antiquadas. Em 1795, as mulheres de classes superiores estavam restritas às funções domésticas e ao papel de mães e esposas, enquanto as mulheres de origens mais humildes se ocupavam exclusivamente com tarefas maternais. No entanto, ao longo de uma década e meia, em 1811, a Inglaterra vivenciava um período de prosperidade econômica impulsionada pela Revolução Industrial. Apesar desse progresso, a posição feminina permanecia estagnada, com exceções limitadas às mulheres da classe trabalhadora, submetidas a condições de trabalho extremamente severas nas fábricas e minas. Aos 36 anos, Austen, então uma romancista madura, apresentava-se como uma autêntica representante de seu gênero literário.

Adaptado para o cinema em 1995, o filme “Razão e Sensibilidade” retrata a vulnerabilidade feminina, refletindo a dependência das mulheres das decisões masculinas e a constante expectativa de orientação masculina sobre comportamentos e papéis sociais. No filme dirigido pelo taiwanês Ang Lee, assim como no romance de Austen, a trama gira em torno de uma mãe e suas três filhas que, enquanto os homens ao seu redor buscam suas próprias vidas em Londres, ficam praticamente paralisadas. Se Austen tivesse uma visão mais crítica, poderia ter considerado um enredo que desafiasse o padrão passivo das personagens femininas, evidenciando a necessidade de exigir mudanças em vez de simplesmente retratar a realidade vigente. A história, que se desenrola lentamente sobre as pequenas inquietações de quatro mulheres com interesses limitados ao lar, pode ser interpretada como um exercício de paciência e reflexão, enquanto as personagens lidam com uma constante sensação de injustiça sem expressar abertamente sua indignação.

O romance “Razão e Sensibilidade” talvez tenha sido um dos primeiros a explorar e criticar a corrupção do sentimento amoroso, evidenciando como a dependência financeira moldava e muitas vezes corrompia as relações pessoais. Esse fenômeno, prevalente entre o final do século 18 e o início do 19, continuaria a influenciar as relações humanas ao longo da história.

A trama do filme começa com a morte do patriarca dos Dashwood, interpretado por Tom Wilkinson. Segundo a lei inglesa, a propriedade é herdada pelo filho do primeiro casamento, enquanto a segunda esposa, interpretada por Gemma Jones, e as três filhas, Elinor (Emma Thompson), Marianne (Kate Winslet) e Margaret (Myriam François-Cerrah), recebem um estipêndio de quinhentas libras. Com isso, são forçadas a deixar sua luxuosa residência no campo e se mudar para uma modesta casa nas proximidades. O enredo revela que, além da necessidade de encontrar um marido, os desafios tornam-se mais evidentes à medida que a narrativa se desenvolve. Elinor, a filha mais velha, enfrenta questões relacionadas à idade, enquanto Marianne, a irmã mais emotiva e exigente, encontra pretendentes que, embora não totalmente inadequados, também não são ideais. Edward, interpretado por Hugh Grant, demonstra interesse por Elinor, mas um segredo complicará o relacionamento dos dois.

Esse primeiro obstáculo desencadeia uma série de complicações dramáticas, particularmente entre as irmãs mais velhas. Margaret, a irmã mais nova, proporciona momentos cômicos em uma narrativa que, apesar de sua leveza, não alcança o mesmo nível de profundidade encontrado em outras obras da trilogia, como “Persuasão” (1995), dirigido por Roger Michell, e “Orgulho e Preconceito” (2005), dirigido por Joe Wright. A competência de Ang Lee em realçar os aspectos mais encantadores de “Razão e Sensibilidade” é evidente, mas o filme, embora divertido, é considerado inferior em comparação com as outras duas adaptações.


Filme: Razão e Sensibilidade
Direção: Ang Lee
Ano: 1995
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10