O melhor filme de 2024 até agora está disponível no Prime Video e custa menos do que um saco de pipocas Divulgação / Warner Bros. Pictures

O melhor filme de 2024 até agora está disponível no Prime Video e custa menos do que um saco de pipocas

A continuação épica de Denis Villeneuve na adaptação de “Duna” não decepciona. Em “Duna: Parte Dois”, o diretor nos leva de volta ao universo denso e complexo criado por Frank Herbert, apresentando uma narrativa que mescla intrincadamente temas de fascismo, imperialismo, resistência e romance. 

Villeneuve, juntamente com Jon Spaihts, corroterista, traz referências a David Lean, George Lucas e Ridley Scott, especialmente nas sequências de combate espetaculares em estádios lotados de espectadores digitais. Contudo, o diretor imprime sua marca, explorando a política secular e a luta dos povos indígenas em planetas vastos e enigmáticos. A trilha sonora e o design de som complementam a atmosfera tensa e hipnotizante, reforçando o impacto visual impressionante e os elementos de horror que permeiam o estilo dos antagonistas intergalácticos.

Apesar do impacto visual e narrativo, há uma sensação de que o intervalo de mais de dois anos entre a primeira e a segunda parte pode ter dissipado um pouco do ímpeto inicial. Quem não está imerso no universo de “Duna” pode achar que o desfecho não oferece a conclusão grandiosa esperada após mais de 330 minutos de exibição. Além disso, os momentos finais do filme parecem acelerados, como se tivessem condensado eventos significativos em um curto epílogo.

Ainda assim, o filme mantém sua grandeza. A cena de batalha no deserto é surreal e tecnicamente brilhante, apresentando um mundo pós-humano evoluído. Villeneuve demonstra confiança ao introduzir elementos de design únicos, que se encaixam perfeitamente na narrativa. No planeta Arrakis, a valiosa Especiaria é o centro de um conflito entre a família Atreides e os corruptos Harkonnen. Paul (Timothée Chalamet) continua sua luta ao lado dos Fremen, apaixonado por Chani (Zendaya) e visto como um messias pelo líder Stilgar (Javier Bardem). Sua mãe, Jessica (Rebecca Ferguson), membro da irmandade secreta Bene Gesserit, também tem um papel crucial na insurgência Fremen. Uma batalha iminente entre os Fremen e os Harkonnen, além de um confronto entre Paul, o Imperador e sua filha Princesa Irulan, intensifica a trama.

O elenco é ampliado com a presença de Léa Seydoux como Lady Margot Fenring e uma breve participação de Anya Taylor-Joy. A cinematografia de Greig Fraser e o design de produção de Patrice Vermette criam um universo distinto e inimitável, enquanto a trilha sonora de Hans Zimmer intensifica a experiência sensorial. Villeneuve demonstra ousadia e visão ao contar esta história épica, mas há a sensação de que a narrativa poderia ser mais coesa, como em “Blade Runner 2049”.

“Duna: Parte Dois” apresenta momentos icônicos que parecem já estar gravados na história do cinema. Vemos figuras solitárias dominando vermes gigantes e batalhas gladiatoriais em cenários desolados, onde as cores são tão esmaecidas que parecem negativos fotográficos. Villeneuve novamente nos envolve em uma experiência sensorial completa. O filme de 2021 estabeleceu uma base de pressentimentos que agora são totalmente explorados na continuação. A obra de Herbert desmascara a noção de destino heroico, revelando-o como uma construção manipulativa para controle colonial. Paul Atreides descobre que é fruto de gerações de manipulação genética por sua mãe e o clã Bene Gesserit, destinado a liderar os Fremen à liberdade.

Com a queda da Casa de Atreides, Paul e Jessica buscam refúgio com os Fremen, liderados por Stilgar. Paul anseia por Chani, a guerreira de seus sonhos, enquanto a Princesa Irulan preocupa-se com a inação de seu pai, o Imperador. Villeneuve expressou interesse em adaptar “O Messias de Duna” como um terceiro filme, alterando pontos cruciais da história original para ressaltar os temas do segundo livro. O terço final de “Parte Dois” é uma ameaça pura, diferindo de qualquer outro blockbuster, com performances intensas de Chalamet e Ferguson. Zendaya assume um papel mais central, consolidando-se como o eixo moral da trama.

Os vilões tradicionais retornam com Stellan Skarsgård como o Barão Harkonnen e Austin Butler como Feyd-Rautha, entregando performances memoráveis. Villeneuve respeita o tom de Herbert, misturando tradição com linguagem contemporânea. A trilha sonora de Hans Zimmer continua a impressionar, e as máquinas inspiradas em HR Giger adicionam uma camada extra de complexidade visual.

Por fim, embora “Duna: Parte Dois” tenha sido criticada pela falta de representação das influências do Oriente Médio e do Norte da África, há um esforço para melhorar essa representação. A linguagem inspirada no árabe dos Fremen é mais destacada, e a inclusão de Souheila Yacoub como Shishakli traz uma diversidade maior. No entanto, ainda é desconfortável ver a apropriação de elementos culturais sem uma representação adequada.

Villeneuve não terminou sua exploração de “Duna”, deixando uma marca indelével na história da ficção científica. A grande questão agora é: o que vem a seguir?


Filme: Duna: Parte Dois
Direção: Denis Villeneuve 
Ano: 2024
Gêneros: Ficção científica/Aventura/Drama 
Nota: 9/10