A inovação digital, com toda sua complexidade e alcance, está profundamente enraizada em nossa sociedade. As reações a essa revolução variam, desde a inquietação dos conservadores até a euforia dos visionários. Mas a grande questão que surge é: será que a inteligência artificial pode realmente preencher os muitos vazios da nossa existência? Mesmo se pudesse, qual seria o custo e a adequação de tal façanha? Detalhes aparentemente triviais, como elegância e decoro, são essenciais nas interações humanas, cuja ausência pode resultar em graves consequências legais e morais, como invasão de privacidade e difamação. As ferramentas tecnológicas, embora fascinantes, levantam questões sobre suas reais implicações.
Em “Wonderland”, um filme sul-coreano dirigido por Kim Tae-yong, a ciência e a poesia se encontram. Aqui, um dispositivo tecnológico é capaz de mitigar a dor da separação entre mundos distintos. Porém, Kim desafia o público com uma indagação crucial: será que isso realmente vale a pena? A história explora a relação de duas personagens principais com seus entes queridos de quem foram forçadamente afastadas. Bai Li, uma arqueóloga, continua ligada à sua filha pequena através de um serviço tecnológico, apesar de ter sucumbido a uma doença terminal. Em paralelo, acompanhamos Jung-in, que mantém uma comunicação diária com seu namorado Tae-ju, acreditando que ele está em uma missão espacial, enquanto, na verdade, ele está em coma em um hospital.
Kim utiliza imagens sugestivas e comedidas para explorar as memórias e os sentimentos dessas personagens, criando uma sensação de estar em dimensões paralelas. Tang Wei, Bae Suzy e Park Bo-gum interpretam de forma tocante e complexa essas emoções contraditórias, nos fazendo questionar se a inteligência artificial poderia, algum dia, substituir esse aspecto tão humano da vida e da morte. A dúvida permanece: mesmo se tal tecnologia fosse possível, será que desejaríamos essa “maravilha” artificial? Talvez nunca saibamos, e honestamente, muitos de nós preferem não experimentar essa ilusão digital.
O filme de Kim Tae-yong, portanto, não é apenas uma narrativa de ficção científica, mas uma reflexão profunda sobre a condição humana e os limites da tecnologia em lidar com questões existenciais. A provocação que deixa para o espectador é clara: até onde estamos dispostos a ir em nossa busca por soluções tecnológicas, e quais são as implicações dessa busca para nossa humanidade?
Filme: Wonderland
Direção: Kim Tae-yong
Ano: 2024
Gêneros: Ficção científica/Romance
Nota: 9/10