Na Netflix, o icônico filme de Tom Hanks que é celebrado como um dos melhores da história do cinema Divulgação / Columbia Pictures

Na Netflix, o icônico filme de Tom Hanks que é celebrado como um dos melhores da história do cinema

No filme “Capitão Phillips” (2013), dirigido por Paul Greengrass, conhecido por sua habilidade em docudramas, a autenticidade é buscada em cada detalhe. O uso da câmera na mão, a decisão de não corrigir as imagens noturnas, resultando em um efeito granulado típico de documentários, e a escolha de um elenco quase inteiramente amador e desconhecido, conferem uma tensão palpável à narrativa.

Greengrass é um mestre em narrar eventos que envolvem grandes tragédias ou situações potencialmente catastróficas. Em “Capitão Phillips”, baseado em uma história real, ele reafirma essa habilidade já demonstrada em “Voo United 93” (2006). O filme narra a jornada do comandante do cargueiro americano MV Maersk Alabama, que em 8 de abril de 2009, transportava alimentos para doação. Ao perceber a iminente ameaça de piratas somalis, Phillips inicialmente consegue despistá-los, mas os ladrões retornam com maior determinação, levando a uma série de reviravoltas magistralmente dirigidas por Greengrass.

Os piratas dominam a tripulação, iniciando um intenso jogo de gato e rato entre Phillips e Muse, o líder da gangue. Mesmo subjugado, o capitão não cede, constantemente arquitetando planos para enfraquecer a resistência dos piratas. Greengrass consegue, através de nuances sutis, mostrar a tristeza e desespero por trás das ações dos somalis, que, apesar de suas atitudes, são produto de um país assolado pela pobreza e conflito.

No segundo ato, quando a atenção se volta mais para os piratas, o filme revela seu verdadeiro propósito. A naturalidade de Muse, interpretado pelo somali Barkhad Abdi, contrasta perfeitamente com a experiência de Tom Hanks, elevando o trabalho de Greengrass a outro nível. Tom Hanks, em sua carreira impecável, desde “Apollo 13” (1995), “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), até “O Náufrago” (2000), demonstra novamente porque é considerado um dos maiores atores de Hollywood.

O início do filme, com Phillips sendo levado ao aeroporto por sua esposa Andrea, interpretada por Catherine Keener, parece forçado, mas é uma tentativa de humanizar o capitão do MV Maersk Alabama. A relação entre Phillips e os piratas é complexa; ele mostra compaixão, mesmo quando ordena que sua tripulação espalhe vidro para ferir Bilal, um dos piratas descalços. Essa ambivalência no caráter de Phillips, equilibrada pela atuação de Hanks, é um dos pontos altos do filme.

A incompetência dos piratas somalis é evidente. Ao descobrir que o cofre do cargueiro contém apenas trinta mil dólares, Muse se resigna a roubar essa quantia. No entanto, instigado por Najee, ele continua sua tentativa. A tripulação é liberada, mas Phillips permanece em poder dos piratas, sob a vigilância de forças militares e policiais. A determinação e sangue frio de Phillips até o desfecho são impressionantes, embora suas tentativas de fuga e o inevitável colapso emocional ao final demonstrem sua humanidade.

“Capitão Phillips” não é apenas sobre a luta entre o capitão e os piratas, mas também sobre a humanidade e desespero que conduzem as ações de cada personagem. Muse, apesar de ser um antagonista, é retratado com uma profundidade que evoca uma compreensão da sua trágica realidade. A vitória de Phillips é, ao mesmo tempo, uma vitória amarga para Muse, que troca a miséria da Somália por uma prisão nos Estados Unidos. Richard Phillips voltou ao trabalho catorze meses depois.

Em momentos de escuridão, a humanidade precisa de exemplos de coragem e determinação. Com a história de um capitão enfrentando piratas, Greengrass ilumina a resiliência humana em um dos filmes mais cheios de reviravoltas dos últimos tempos.


Filme: Capitão Phillips
Direção: Paul Greengrass
Ano: 2013
Gênero: Thriller/Ação
Nota: 10/10