Considerada uma das melhores atuações de Kevin Costner, suspense na Netflix vai te fazer roer as unhas por 120 minutos Divulgação / Element Films

Considerada uma das melhores atuações de Kevin Costner, suspense na Netflix vai te fazer roer as unhas por 120 minutos

O conceito da banalidade do mal, introduzido pela filósofa alemã Hannah Arendt no livro “Eichmann em Jerusalém” (1963), resiste ao teste do tempo. Arendt, uma das intelectuais mais respeitadas do mundo, mesmo cinquenta anos após sua morte, buscou entender como um homem comum se tornara um dos principais executores do nazismo sob Adolf Hitler.

Ao acompanhar o julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém, ela concluiu que não havia nada de especial nele: Eichmann era um homem comum, com ambições e necessidades cotidianas, cuja única diferença era o contexto de seu trabalho e seus superiores. Para Arendt, o enigma do século 20 estava na capacidade de um indivíduo comum obedecer a ordens insanas e contribuir para um dos períodos mais horríveis da história, um fenômeno que a intrigava profundamente.

No filme “Instinto Secreto” (2009), o personagem central dificilmente atingiria a destruição perpetrada por Eichmann, mas ainda assim, ilustra a teoria de Arendt de forma indireta. O mal, neste contexto, aparece de maneira sutil e perversa, disfarçado sob o prazer incontrolável de um homem que, externamente, parece ser um pai amoroso, marido dedicado e empresário bem-sucedido. O diretor Bruce A. Evans explora essa dualidade, mostrando como uma fachada de amabilidade pode esconder um monstro.

Earl Brooks, interpretado por Kevin Costner, exemplifica essa dualidade. Embora pareça um cidadão modelo, ele é secretamente um assassino em série. Brooks é um homem de gostos refinados, mas possui uma compulsão macabra: perseguir e matar estranhos. Este personagem tem ecos de Jekyll e Hyde, mas se assemelha mais a Patrick Bateman de “Psicopata Americano” (2000), o terror psicológico dirigido por Mary Harron que se tornou um ícone da cultura pop.

Como todo bom maníaco, Brooks é habilidoso em esconder sua verdadeira natureza. No filme, ele é eleito o Homem do Ano pela Câmara de Comércio de Portland, Oregon. Seu casamento com Emma, interpretada por Marg Helgenberger, é aparentemente perfeito, e ele faz de tudo para proporcionar à filha Jane, interpretada por Danielle Panabaker, uma educação de elite. No entanto, Jane guarda segredos que são revelados de maneira impactante, especialmente no clímax do filme.

O filme destaca o confronto entre Brooks e o Sr. Smith, interpretado por Dane Cook, um personagem tão insano que desafia a esperteza de Brooks. O alter ego de Brooks, Marshall, interpretado por William Hurt, talvez represente a consciência crítica dos homens como ele. As interações entre Brooks e Marshall acrescentam uma camada de complexidade ao personagem principal, evidenciando como indivíduos aparentemente normais podem esconder facetas profundamente perturbadoras.

“Instinto Secreto”, na Netflix, proporciona uma narrativa envolvente, destacando a dicotomia entre a aparência e a realidade, e explora a natureza humana de maneira que ressoa com as observações de Arendt sobre a banalidade do mal.


Filme: Instinto Secreto
Direção: Bruce A. Evans
Ano: 2007
Gêneros: Thriller/Mistério
Nota: 8/10