Em 1969, um experimento militar focado no compartilhamento seguro de dados em tempo real foi adaptado às necessidades da equipe que o desenvolveu, ao mesmo tempo em que criava novas demandas e possibilidades. Os cientistas envolvidos no projeto viam nessa empreitada a chance de transformar o mundo na aldeia global idealizada pelo filósofo canadense Marshall McLuhan (1911-1980), um lugar utópico onde a maioria das pessoas, independentemente de classe social, cor da pele ou fé, teria direito de integrar uma nova civilização mais igualitária, fraterna e humana. Embora a internet tenha nascido sob um sonho grandioso, hoje, apenas 60% da população mundial tem acesso a uma conexão eficiente, revelando as limitações da inteligência artificial em seu estágio mais rudimentar.
Cada novo problema e desafio inédito provocado pela tecnologia forçou o homem a criar novas soluções. Surgiram então objetos, mecanismos, programas e dispositivos que antes eram completamente alheios ao cotidiano do cidadão comum. Esses avanços tecnológicos, capazes de expandir e transformar a realidade, permitiram que as pessoas vivenciassem situações outrora inimagináveis. No entanto, esses dispositivos rapidamente se tornaram comuns, parte do nosso dia a dia, e aquilo que antes era novidade virou rotina. A partir daí, novos desejos e necessidades foram criados, e a constante busca por inovações tecnológicas tornou-se parte da nossa realidade.
No filme “iBoy”, vemos um retrato fantasioso da vida pós-moderna. Baseado no romance de ficção científica homônimo de Kevin Brooks, publicado em 2010, Adam Randall aborda os superpoderes que adquirimos com a massificação da tecnologia. O roteiro de Joe Barton, Jonny Stockwood e Mark Denton é traduzido em uma sequência bem filmada onde Tom, o anti-herói adolescente interpretado por Bill Milner, é vítima de um tiroteio entre gangues e termina com fragmentos de seu smartphone no tecido cerebral. Submetido a uma cirurgia que lhe deixa uma cicatriz, Tom descobre que os condutores eletroeletrônicos do aparelho, combinados com a sua nova condição, resultam numa forma revolucionária de conexão que pode alcançar computadores e celulares de pessoas ao redor do mundo.
Randall mantém a trama nesse sentido por dois terços da projeção, até que decide explorar outra faceta da história narrada por Brooks, envolvendo Danny, o melhor amigo de Tom, interpretado por Jordan Bolger. O desfecho, apesar de cercado pelo cinza do horizonte britânico, mostra que Tom é capaz de superar crises e até de ser romântico, como visto na última cena com Lucy, a possível nova namorada, interpretada por Maisie Williams.
Filme: iBoy
Direção: Adam Randall
Ano: 2017
Gêneros: Ação/Ficção científica/Suspense
Nota: 8/10