Último filme de Angelina Jolie chega ao Prime Video e vale cada milésimo de segundo do seu tempo Divulgação / New Line Cinema

Último filme de Angelina Jolie chega ao Prime Video e vale cada milésimo de segundo do seu tempo

A improvável relação de um garoto que perde o pai em circunstâncias misteriosas e uma bombeira presa de fantasmas mais resistentes do que poderia supor vira um thriller cheio de guinadas pouco racionais, porém críveis, sem prejuízo da carga de drama nas mãos de Taylor Sheridan, o diretor de “Aqueles Que Me Desejam a Morte”. Sheridan adapta o suspense policial de mesmo nome de Michael Koryta, na lista dos best-sellers do jornal “New York Times” do fim do segundo semestre de 2014, quando foi lançado, de modo a despejar sobre Hannah Faber, a personagem de Jolie, culpa, remorso, mágoa e uma doença clinicamente diagnosticada por não ter sido capaz de exercer seu ofício, o que culminou na morte de colegas durante uma ocorrência nas Montanhas Rochosas. A partir de então, a protagonista desce ao inferno para resgatar a dignidade e proteger Connor Casserly, o novo pupilo, e seu encontro com Finn Little imprime à história o caráter de fábula diabólica inicialmente pretendido por Koryta, cujo participação se estende também ao roteiro, coassinado por Sheridan e Charles Leavitt.

Não é nada fácil tentar corresponder ao que podem esperar de nós todos aqueles que não nos conhecem e arvoram-se em nossos advogados ou juízes, mas é escandalosamente melancólico fazer da vida uma mercadoria vulgar, a ser comprada ao preço mais em conta pelo primeiro que aparecer. Desajustes são comuns quando tudo o que se tem é pouco mais que a gana de seguir adiante, mas há quem enverede pelo lado mais obscuro da estrada com tanto gosto que passa a achar-se credor de tudo o que o mundo tenha a oferecer para que se escape ao tédio do existir.

Na sequência de abertura, Connor surge tomando café da manhã com o pai, Owen, de Jake Weber, pouco depois de dois falsos bombeiros entrarem na casa de uma família, matarem todos e provocarem a explosão que serve-lhes como o álibi perfeito. Ao saber do acontecimento pela televisão, Owen sai em desespero com o garoto à procura de um esconderijo, enquanto Hannah, numa roda de adoráveis cafajestes, bebe e discute modalidades sexuais ortodoxas, até se levantar, colocar nas costas um paraquedas e se emborrachar ao fim da ladeira na curva de uma entrada. Pano longo.

Hannah e Connor entram na vida um do outro com um propósito em comum: superar medos e atingir as constatações nada românticas sobre ser preciso ir ao mais fundo de nosso espírito, a fim de conseguir ter algum domínio da jornada. A punição de Hannah, forçada a patrulhar sozinha as Rochosas, aquele território maldito que infelizmente conhece tão bem, faz com que ache o garoto, sem o pai. Sheridan elabora essa nova amizade valendo-se dos elementos sombrios que cercam a floresta, encarnados por Patrick e Jack, os vilões do prólogo, vividos por Nicholas Hoult e Aidan Gillen. O vem daí é a milenar luta do bem contra o mal, envolta no charme sombrio de um conto digno de Stephen King ou Hitchcock.


Filme: Aqueles Que Me Desejam a Morte
Direção: Taylor Sheridan
Ano: 2021
Gêneros: Ação/Drama/Thriller
Nota: 8/10