Com 130 indicações a prêmios e ganhador de 6 Oscars, filme com Jeremy Renner está na Netflix Divulgação / Voltage Pictures

Com 130 indicações a prêmios e ganhador de 6 Oscars, filme com Jeremy Renner está na Netflix

Kathryn Bigelow, ao lançar “Guerra ao Terror” em 2008, esboçava um prelúdio do que viria a tratar com mais precisão e profundidade em “A Hora Mais Escura” (2012). Este filme revela o estado de insegurança e paranoia instaurado nos Estados Unidos e no mundo após os atentados de 11 de setembro de 2001, evento que expôs o terrorismo de maneira intensa e assustadora.

A obra traz à tona as implicações deste período turbulento, destacando a luta pela manutenção dos valores civilizatórios, liberdade e segurança individual. “Guerra ao Terror” e “A Hora Mais Escura” são complementares, onde um fornece os detalhes essenciais para a compreensão do outro. Bigelow, com a colaboração do roteirista Mark Boal, entrega uma narrativa de tensão constante que, apesar de seus 131 minutos, mantém o público cativado, aguardando as inevitáveis reviravoltas.

Bigelow e Boal têm a habilidade de transformar personagens controversos em figuras quase heróicas, ganhando a simpatia do público não por suas ações corretas, mas por sua capacidade de agir diante do caos. Esses personagens, humanos e falhos, refletem a luta diária por um mundo menos ordinário.

O enredo, no entanto, adentra uma área delicada ao sugerir que a guerra possui um caráter viciante. Boal, ao explorar essa temática, desafia o politicamente correto das últimas décadas, ecoando a ideia de Phillip Knightley em “A Primeira Vítima” (1978), onde a guerra é descrita como uma atividade quase lúdica para aqueles envolvidos nela.

O sargento William James, interpretado por Jeremy Renner, é um exemplo desse paradoxo. Sua rotina de desarmar bombas e liderar missões perigosas no Iraque o afasta da monotonia, mesmo que isso o faça questionar sua própria moralidade.

Boal pinta James como um soldado mais comprometido com sua função do que com seus colegas, o que leva à desconfiança e repúdio após um incidente fatal com Matt Thompson, interpretado por Guy Pearce. O filme se passa no Iraque, mas ressoa com conflitos em outras regiões, como Afeganistão e Líbia, onde os EUA, enquanto combatiam o Estado Islâmico, muitas vezes acabavam prejudicando as mesmas populações que visavam proteger.

Renner entrega uma performance complexa, personificando um anti-herói que é ao mesmo tempo um salvador e um produto do caos que tenta controlar. Sua habilidade de desarmar bombas, essencial para a sobrevivência de sua unidade, destaca sua singularidade e a fina linha que o separa de seus inimigos. O personagem de Renner é uma representação do soldado moderno, preso entre o dever e a moralidade, vivendo no limiar entre a ordem e o caos.

As interações entre Renner e Anthony Mackie, que interpreta o sargento J.T. Sanborn, adicionam camadas de complexidade ao filme. Mackie encarna um soldado prudente e dedicado, cujo patriotismo é ofuscado pela falta de resultados tangíveis em suas missões.

Sanborn, com sua abordagem meticulosa e respeito pelos protocolos, representa o outro lado da moeda: um guerreiro que, apesar de seus esforços, contribui para a perpetuação do medo. A relação entre James e Sanborn é um microcosmo das contradições da guerra, onde camaradagem e desconfiança coexistem, refletindo as ambiguidades do conflito moderno.


Filme: Guerra ao Terror
Direção: Kathryn Bigelow
Ano: 2008
Gêneros: Guerra/Ação/Suspense
Nota: 9/10