Aclamado no Festival de Cinema de Nova York, obra-prima naturalista do cinema argentino é tesouro escondido no Prime Video Divulgação / Paradis Films

Aclamado no Festival de Cinema de Nova York, obra-prima naturalista do cinema argentino é tesouro escondido no Prime Video

Que o cinema argentino sempre guarda adoráveis surpresas, todo mundo sabe. “Rolling Family” ou “Familia Rodante”, de Pablo Trapero, definitivamente é uma dessas surpresas guardadas em uma caixinha há muito tempo esquecida. Filme de 2004, que estreou no Festival de Cinema de Nova York, o longa-metragem analisa as idiossincrasias de uma família que atravessa a Argentina, de Buenos Aires até Misiones, uma cidadezinha fronteiriça com o Brasil.

Emilia — interpretada por Graciana Chironi, que é avó de Trapero — é convidada pela irmã para o casamento de sua filha. Há décadas sem reencontrar os familiares, Emilia decide que esse é o momento ideal para reunir os parentes. Então, Emilia, os filhos, netos e bisneta abarrotam o pequeno trailer da família para atravessar o país.

Uma espécie de “Pequena Miss Sunshine”, só que sem o concurso de beleza e sem o lado explicitamente cômico, “Familia Rodante” desenvolve diversos dilemas enquanto o trailer carrega a família estrada afora. Tanto o lado humorístico quanto o dramático são mais voltados para as querelas familiares que acontecem e os perrengues na estrada.

Com um tom que mistura nostalgia, folclore e realismo, o filme de Trapero conduz os espectadores para uma aventura meio sem reviravoltas, sem clímax, sem objetivo, mas essa é a beleza da história: retratar uma viagem incomum ao cotidiano da família, ao mesmo tempo que mostra como eles são como qualquer outra, cheia de crises, rivalidades e união acima de tudo e de todas as peculiaridades.

Emilia é a matriarca, enquanto Oscar (Bernardo Forteza), dono do motor-home, é o tio que dirige a viagem toda e precisa solucionar os problemas mais técnicos da jornada. Marta (Liliana Capurro) é esposa de Oscar e vítima dos constantes assédios de Ernesto (Carlos Resta), que é casado com Claudia (Ruth Dobel). Gustavo (Elías Viñoles) é o primo adolescente que está interessado tanto na prima, Yanina (Marianela Pedano), quanto na amiga dela, Nádia (Leila Gomez). Há também a mãe adolescente Paola (Laura Glave) e o priminho menor, Matias (Nicolas Lopez).

A viagem é longa e intensa e a quantidade de pessoas trancafiadas no pequeno espaço do trailer amplifica as crises, tornando a convivência enlouquecedora. O filme foi produzido de forma independente, proporcionando a Trapero a liberdade criativa para produzir algo autêntico e pouco comercial. Com um orçamento modesto, ele contou com um elenco formado por familiares e amigos, o que ajudou a criar a química e a atmosfera familiar.

Como road-movie, o filme realmente percorreu as locações, mostrando-nos paisagens reais do interior da Argentina. Um marco do novo cinema argentino, o longa-metragem destaca o realismo, o cotidiano e os conflitos geracionais de forma naturalista e relacionável. Todos nos comovemos com “Familia Rodante”, porque todos nos vemos nele.


Filme: Rolling Family
Direção: Pablo Trapero
Ano: 2004
Gênero: Comédia/Drama/Road
Nota: 9