Desligue o cérebro e apenas ria: comédia da Porta dos Fundos chega à Netflix Rachel Tanugi Ribas / Paris Filmes

Desligue o cérebro e apenas ria: comédia da Porta dos Fundos chega à Netflix

O Porta dos Fundos passa longe da unanimidade, mas não chega a ser inteligente — apesar de uns sabidos bradarem o exato oposto. Tal impressão se solidifica diante de “Contrato Vitalício”, misto de nonsense, comédia física e sátira de costumes do grupo sediado em Botafogo, na Zona Sul carioca. Antes uma espécie de ação entre amigos um tanto despretensiosa, voltada, claro, a esquetes humorísticas em que se castigava o estabelecido com blagues sofisticadas a respeito das arcaicíssimas mazelas de Pindorama, a trupe liderada por Fábio Porchat e Gregório Duvivier foi se profissionalizando e hoje parece insanidade pensar que tudo começou num modesto canal no YouTube, como muita gente, que se diga — é possível que, demorassem mais um pouco, teriam sido soterrados pela avalanche de influenciadores digitais, uns genuinamente engraçados, outros apenas reproduzindo as fórmulas caquéticas que até a televisão já aposentou. De qualquer modo, no longa de Ian SBF encontra-se muito pouco do que poderia justificar o trabalho de um lançamento no cinema, por mais patrocínio que eles consigam.

O texto de SBF, Porchat e Gabriel Esteves reserva para dois personagens de um vasto elenco as piadas menos ruins e as cenas mais relevantes para o enredo, e logo o desperdício se faz sentir. Rodrigo e Miguel, os personagens de, claro, Porchat e Duvivier, são um ator e um cineasta na cerimônia de encerramento do Festival de Cannes, do qual participam sem grandes ambições. Estar ali, rodeados pelas estrelas que aprenderam a admirar, já seria uma história digna de se contar aos netos, mas o impossível acontece, e o filme deles ganha a Palma de Ouro. 

Depois que os protagonistas chamam a atenção do público para o conflito principal da trama, acerca das condições em que é assinado o tal acordo do título, vão surgindo as figuras em que poderia estar a graça do que o diretor propõe-se a narrar, e Ulisses, o empresário de Rodrigo interpretado por Luís Lobianco, e Marcos Veras como Lorenzo, um jornalista de celebridades afetado, mas sardônico, roubam a cena, para imediatamente serem apagados por Xuxa, Marília Gabriela, Nelson Rubens e Sérgio Mallandro, e ao cabo de cem minutos já não se sabe mais o porquê do rompimento entre Rodrigo e Miguel, e tanto menos quem seria o herói e o vilão dos dois. Muito diversamente do Monty Python em que dizem se inspirar, “Contrato Vitalício” é só um esquete bem mais longo e bem mais caro.


Filme: Contrato Vitalício 
Direção: Ian SBF
Ano: 2016
Gênero: Comédia 
Nota: 7/10