Não é surpresa que a arte da pantomima seja tão valorizada na França e reconhecida em todo o mundo. Influenciados por figuras como Étienne Decroux e Marcel Marceau, os artistas de mímica em Paris hoje em dia são tanto atrações turísticas quanto símbolos culturais. Marceau, em particular, é considerado o maior mímico de todos os tempos, mas seu início de carreira e os desafios que enfrentou foram significativos.
O filme “Resistência” (2020), dirigido por Jonathan Jakubowicz, aborda essa fase inicial da vida de Marceau, destacando sua importância histórica e cultural. Marceau encontrou inspiração em grandes nomes do cinema mudo como Charles Chaplin e Buster Keaton, o que despertou sua paixão pela mímica. No entanto, ele se viu em meio a um dos períodos mais sombrios da história da humanidade.
Nascido em Estrasburgo, França, em 1923, durante a Primeira Guerra Mundial, Marcel Marceau e sua família, que era judia, mudaram-se para Lille durante a Segunda Guerra Mundial. Aos 17 anos, Marceau teve de lidar com a captura de seu pai pela Gestapo, que mais tarde morreu em Auschwitz em 1945. Ele e seu irmão sobreviveram graças à ajuda de seu primo, George Loinger, que ajudava crianças judias a escapar para outros países. Marceau e seu irmão se juntaram à Resistência Francesa, encontrando um propósito maior em ajudar crianças judias, utilizando suas habilidades de mímico para ensinar as crianças a se esconderem, escalarem árvores e ficarem em silêncio, habilidades vitais para a sobrevivência.
Durante a guerra, Marceau salvou mais de 70 crianças judias, um feito que é detalhado em “Resistência”, um filme comovente e impactante. Após o conflito, Marceau alcançou fama mundial, embora muitos não soubessem de seus esforços heroicos durante a guerra. O filme destaca o contraste entre sua vida como artista e os horrores enfrentados na juventude, particularmente a figura de Klaus Barbie, um oficial nazista cruel. Barbie, conhecido por suas torturas brutais, foi capturado e julgado por crimes contra a humanidade apenas décadas depois, morrendo na prisão em 1991.
Em “Resistência”, Jesse Eisenberg interpreta Marceau de forma surpreendente, apesar de seu estilo introspectivo. O vilão Barbie é interpretado por Matthias Schweighöfer, que entrega uma performance impressionante como um nazista instável e violento. A trilha sonora de Angelo Milli e a cinematografia de M.I. Littin-Menz complementam a narrativa do filme, destacando a sensibilidade artística de Marceau.
O filme oferece lições valiosas sobre a capacidade de heróis inesperados emergirem em tempos de crise e o poder redentor da arte em momentos de escuridão. “Resistência”, na Netflix, é um lembrete de que, mesmo diante do mal, a bondade e a esperança podem prevalecer, deixando um legado de coragem e compaixão.
Filme: Resistência
Direção: Jonathan Jakubowicz
Ano: 2020
Gênero: Drama
Nota: 8/10
