Obra-prima do cinema dinamarquês indicado a 13 prêmios, na Netflix Rolf Konow / SMPSP

Obra-prima do cinema dinamarquês indicado a 13 prêmios, na Netflix

Para onde queremos ir e como chegaremos lá é uma questão central em “Um Homem de Sorte” (2018). Este filme explora as tensões entre aspirações de sucesso e um sistema estabelecido e implacável. O enredo se desenrola em torno dos personagens que, na busca por fortuna e prestígio, enfrentam um sistema poderoso e resistente. O filme de Bille August, adaptado do romance “Lykke-Per” de Henrik Pontoppidan, tenta responder por que esses mundos paralelos acabam colidindo.

O roteiro, baseado no romance premiado com o Nobel de Literatura de 1917, mantém uma tensão melodramática constante. Em muitos momentos, parece que essa tensão vai se romper, mas August, conhecido pelo premiado “Pelle, o Conquistador” (1987), permite que os personagens conduzam a narrativa. A história, carregada de emoção, é enriquecida pela maneira sutil como August insinua temas nunca explicitamente discutidos, mas profundamente compreendidos.

Peter Andreas, interpretado por Esben Smed, despreza seu pai, um rígido vigário, e vai para Copenhague para estudar engenharia. Ele rejeita seu passado e até seu nome, adotando “Per”. Smed captura perfeitamente a natureza sonhadora de Per, utilizando o roteiro coescrito por August e Anders Frithiof August como base, mas encontrando sozinho a chave para tornar Per um personagem verossímil. A ambição de Per se revela através de seu projeto inovador para gerar energia elétrica a partir do vento e da água, uma ideia progressista para o início do século 20.

Pontoppidan, um engenheiro que se tornou jornalista, antecipa com precisão questões ambientais, econômicas e científicas. Ele enfatiza que a nação capaz de produzir energia limpa dominará economicamente. Per, ainda excluído da elite de Copenhague, precisa de uma rede de contatos e patrocínio para ver sua ideia prosperar. É nesse ponto que August desenvolve o romance entre Per e Jakobe Salomon, interpretada por Katrine Greis-Rosenthal. Jakobe, de uma influente família judia, aceita Per apesar da oposição do pai, que vê Per como um oportunista. A relação deles é complexa, marcada por diferenças religiosas e sociais, e condenada desde o início.

“Um Homem de Sorte”, na Netflix, é uma das produções mais sofisticadas do cinema dinamarquês do século 21. August combina um enredo intelectual com excelente técnica cinematográfica, destacando-se a fotografia de Alar Kivilo. A cena de despedida entre Per e Jakobe é sutil, mas poderosa, demonstrando que cada filme tem seu encanto único. “Um Homem de Sorte” exemplifica essa regra, oferecendo uma narrativa rica e envolvente.


Filme: Um Homem de Sorte
Direção: Bille August
Ano: 2018
Gênero: Drama/Romance
Nota: 9/10