Em muitas ocasiões, os americanos se destacam na arte de revelar suas vulnerabilidades através do cinema. Temas complexos como racismo, sexualidade, dependência química, e as hipocrisias inerentes ao estilo de vida de uma das nações mais democráticas e complicadas do mundo, frequentemente são abordados com intensidade. Longe de afastar o público, essa abordagem corajosa tende a atraí-lo ainda mais, proporcionando ao espectador um senso de compreensão e empatia ao ver suas próprias dores refletidas na tela.
O enredo de “Criminosos de Novembro”, disponível na Netflix, é um reflexo das dificuldades enfrentadas por muitas famílias ao redor do globo, lidando com o comportamento problemático de seus filhos. No entanto, Sacha Gervasi consegue imprimir uma profundidade sociológica à narrativa, evitando qualquer traço de proselitismo.
O roteiro elaborado por Gervasi, Steven Knight e Sam Munson equilibra magistralmente os dilemas juvenis do protagonista, um anti-herói cativante em sua vulnerabilidade, com sua perigosa fixação por um crime que o afeta profundamente, mais até do que uma recente tragédia pessoal. Essa obsessão paradoxalmente o choca e o fortalece.
No início do filme, Addison Schacht narra suas reflexões sobre a morte prematura de sua mãe, vítima de um aneurisma. A declaração de Addison sobre sua habilidade em “fingir estar bem” é reveladora e carregada de um cinismo esclarecedor, oferecendo uma visão profunda do personagem.
Ansel Elgort, um dos atores mais talentosos de sua geração, interpreta esse personagem complexo com uma audácia impressionante. Sua atuação transcende o próprio filme, destacando tanto a fragilidade quanto a resiliência de Addison, mesmo quando os eventos do segundo ato parecem contradizer essa percepção.
A amizade com Phoebe, interpretada por Chloë Grace Moretz, é um dos poucos respiros de uma vida sempre à beira do colapso. Durante uma manhã tranquila em Washington, os dois decidem tomar café na padaria Seven Stars, onde Kevin Broadus, um balconista vivido por Jared Kemp, trabalha. A paz logo se desfaz quando Kevin é assassinado, minutos após os personagens de Elgort e Moretz se entregarem a uma aventura íntima no velho Alfa Romeo vermelho.
Quando Addison recebe a notícia da morte de Kevin, seu amigo, através do bip que seu pai lhe deu, inicia-se uma perseguição implacável. Addison usa essa busca como uma forma de dar sentido a uma existência que ele via como monótona e desprovida de propósito. Gervasi mantém a essência sombria do romance policial de Munson, publicado em 2010, dando ao seu anti-herói uma oportunidade de redenção, sem parecer forçado ou improvisado.
Filme: Criminosos de Novembro
Direção: Sacha Gervasi
Ano: 2017
Gêneros: Drama/Suspense
Nota: 9/10