Aclamado no Festival de Cinema de Barcelona, filme da Netflix sobre solidão e amadurecimento vai encher seus olhos Divulgação / Netflix

Aclamado no Festival de Cinema de Barcelona, filme da Netflix sobre solidão e amadurecimento vai encher seus olhos

O sentimento de alienação em relação a tudo, o desconforto diante do mundo e de si mesmo, e o desejo de transformar tudo o que já existe, sem saber por onde começar e, principalmente, como fazê-lo, são características daquela fase da vida em que os sonhos têm mais importância do que o concreto, o real e o possível.

 “Dezessete”, um drama que narra o árduo amadurecimento de um jovem espanhol, capta essa dissonância entre a intenção e a vida como ela é. O diretor Daniel Sánchez Arévalo utiliza técnicas que suavizam a abordagem, evitando pregações ideológicas e permitindo que a história flua de maneira natural, retratando situações que poderiam acontecer na mais honrada das famílias.

Aos dezessete anos, Héctor exemplifica o impacto das unidades de ressocialização, muitas vezes apenas depósitos de jovens, em meninos inexperientes como ele. Desde cedo, o personagem interpretado por Biel Montoro sente o desprezo da sociedade e não encontra refúgio em casa para suas inquietações.

Profundamente solitário, Héctor enfrenta provocações constantes dos outros internos — que o atormentam porque ele leva a sério a punição imposta pela juíza que o condenou por furto qualificado de uma loja de departamentos, para onde foi de moto, também roubada, movido pela vontade de melhorar as condições de vida de sua avó, Cuca, interpretada por Lola Cordón, que sofre de uma doença terminal.

Os monitores nunca percebem essas agressões. Héctor devora o código penal espanhol “para aprender a diferença entre certo e errado”, como sugerido pela juíza, e ganha o apelido de Advogado, embora pudesse ser chamado de Fugitivo, pois, à primeira oportunidade, como um jogador em final de campeonato, ele avança pelo campo onde os outros adolescentes jogam futebol, dribla os guardas e escala a grade. Sempre capturado, Héctor é levado ao quarto para aguardar a punição.

Quando finalmente conquista sua tão almejada liberdade, ainda que por meios duvidosos, reencontra seu irmão mais velho, Ismael, interpretado por Nacho Sánchez. Os dois têm a rara oportunidade de refletir sobre as adversidades que enfrentaram, apesar da pouca idade. A reviravolta do roteiro de Arévalo, que habilmente utiliza essa premissa para conduzir seus personagens em uma jornada de autoconhecimento e compaixão, permite que Héctor tente recuperar Ovelha, o vira-lata a quem se apegou durante uma atividade educativa no reformatório, seu verdadeiro e único amigo.

No segundo ato, “Dezessete” explora as dificuldades do relacionamento entre os irmãos, abordando questões delicadas, como onde enterrar Cuca após sua morte, já que o aluguel do jazigo da família não é pago há mais de um ano. A promessa de felicidade no desfecho é ilusória, com Ismael e Héctor seguindo caminhos separados e sem Ovelha. No entanto, a vida é exatamente isso: uma constante série de desencontros pontuados por breves momentos de união.


Filme: Dezessete
Direção: Daniel Sánchez Arévalo
Ano: 2019
Gêneros: Drama/Comédia/Coming-of-age
Nota: 9/10