Com a chegada do Natal, surgem diversas produções cinematográficas e séries que buscam capturar a “magia” dessa época do ano. Esse período, que dura pouco mais de um mês, é marcado por uma intensa correria, projetos adiados, gastos impulsivos em pequenas reformas, comércio abarrotado e, no hemisfério sul, um calor escaldante.
Como em muitas histórias natalinas, o filme “Última Chamada para Istambul” também aborda essa temática, mostrando um hemisfério norte livre do calor, mas repleto de outras confusões, que chegam com ainda mais intensidade e antecedência, começando pelo Dia de Ação de Graças. Este feriado, como o Natal, é um tempo para as pessoas fingirem que se amam e agradecem por suas posses materiais, enquanto escondem ressentimentos profundos. Toda a festividade é regada com iguarias que podem ser desfrutadas por aqueles que têm recursos, destacando uma realidade onde nem todos têm acesso à boa mesa, mesmo em tempos de celebração.
O filme do diretor turco Gönenç Uyanık critica o farisaísmo das datas comemorativas, sugerindo que a felicidade nessas ocasiões é algo que deve ser rapidamente adquirido, para evitar comprometer o próximo ano de ilusões autoimpostas.
“Última Chamada para Istambul”, na Netflix, é um filme visualmente atraente. O roteiro de Nuran Evren Sit explora várias cenas com belíssimas vistas de Nova York, capturando a cidade em diferentes momentos do dia e em diversas condições climáticas. Embora seja uma produção turca, o cenário americano oferece um contraste interessante, permitindo trocadilhos relacionados ao nome da cidade dos protagonistas e o tradicional peru das festas de fim de ano.
A trama gira em torno de Serin e Mehmet, personagens interpretados por Beren Saat e Kivanç Tatlitug, respectivamente. Ambos são jovens, atraentes, ricos e comprometidos. Embora a história siga um caminho previsível, o diretor utiliza o texto de Sit para introduzir algumas surpresas, começando com uma mala trocada no Aeroporto Internacional John F. Kennedy.
Serin, a protagonista feminina, não parece enfrentar problemas conjugais. Já Mehmet, interpretado com charme cafajeste por Tatlitug, começa a criar pretextos para estar com Serin, apesar de serem estranhos um ao outro e compartilharem apenas a experiência de voo e alguns contratempos ao chegar nos Estados Unidos.
O filme falha em justificar por que Serin e Mehmet estão em Nova York sem seus respectivos cônjuges, uma das grandes deficiências na direção de Uyanık. O longa tenta replicar o sucesso de “Amor sem Escalas” (2009), de Jason Reitman, mas sem a mesma ousadia ao criticar a hipocrisia e o cinismo dos adultos que evitam amadurecer. No entanto, durante o Natal, parece que tudo é perdoado.
Filme: Última Chamada para Istambul
Direção: Gönenç Uyanık
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 7/10