Os tempos mudaram, e o interesse dos cavaleiros por princesas é coisa do passado. “Donzela”, dirigido por Juan Carlos Fresnadillo, exemplifica essa mudança ao sustentar até o fim um argumento arriscado, repleto de sequências impressionantes com avançados efeitos de computação gráfica. Um dragão imenso cospe fogo sobre guerreiros encurralados, enquanto uma jovem, tão pura quanto a aurora de um dia de outono, racha lenha em um reino distante.
O roteiro de Dan Mazeau explora a dicotomia entre a imagem de uma jovem nobre e suas atividades físicas cotidianas. Ele revela quase todos os detalhes através de cenas em que Elodie, a herdeira de um trono em ruínas, e sua irmã Floria, enfrentam crescentes humilhações para sobreviver. Trocar pratarias e cristais por comida é um ato de sobrevivência desonroso que ilustra a queda de sua família.
Fresnadillo joga com vários clichês das histórias de donzelas à espera de um herói, apenas para subverter essas expectativas com uma protagonista fascinante, que se torna a salvadora de si mesma. Ele engana o público com a promessa de uma nova era de opulência e romance para Elodie. Seu pai, o lord Bayford, interpretado por Ray Winstone, está envolvido em negociações obscuras para garantir um futuro melhor para ela através do casamento com o príncipe Henry, herdeiro de um reino próspero. Elodie deve viajar de navio para cumprir suas novas responsabilidades como consorte, sonhando em se tornar uma mulher poderosa e respeitada.
Millie Bobby Brown, no papel de Elodie, inicialmente alimenta as ilusões do público ao mostrar gratidão à família de Henry, interpretado por Nick Robinson. Eles formam um belo par, mas a narrativa de Mazeau logo introduz uma reviravolta. Fresnadillo desenvolve a relação de Elodie com Floria e sua madrasta, lady Bayford, interpretadas por Brooke Carter e Angela Bassett, respectivamente. As atuações, especialmente de Bassett, são um pouco apagadas, mas isso muda quando o mistério é revelado.
Elodie se vê casada e presa em uma caverna, aguardando um ritual misterioso que justifica a trama. Aqui, o filme, que está na Netflix, brilha com um espetáculo visual liderado pelo design de produção de Patrick Tatopoulos e os figurinos deslumbrantes de Amanda Monk. Essa mistura de elementos cria uma experiência visualmente rica que lembra tanto o conto de fadas “Cinderela” de Charles Perrault quanto “Bela Vingança” de Emerald Fennell, resultando em uma reflexão profunda sobre a condição humana.
Filme: Donzela
Direção: Juan Carlos Fresnadillo
Ano: 2024
Gêneros: Fantasia/Aventura
Nota: 8/10
