Todo casal precisa ver este filme na Netflix — Descubra por quê! Divulgação / Paramount Pictures

Todo casal precisa ver este filme na Netflix — Descubra por quê!

Sean Anders sabe do que está falando em “De Repente Uma Família”, uma comédia dramática perspicaz sobre um casal de meia-idade que decide sem muita firmeza adotar um trio de irmãos em estado de vulnerabilidade social. Como Pete e Ellie Wagner, os protagonistas vividos por Mark Wahlberg e Rose Byrne, Anders e a esposa também adotaram três filhos a partir do cadastro nacional de adoção americano, e passaram pelos momentos de angústia muito singular que uma mulher e um homem, dois homens, duas mulheres ou mães e pais solo experimentam ao se julgar capazes da aventura imprevisível de ser o porto seguro de uma criança. Junto com o corroteirista John Morris, Anders explora as tantas situações comuns a candidatos a novos pais de indivíduos em muitas circunstâncias já bem grandinhos e cheios de vontades, até que uma variável especialmente confusa integra a equação.

Cada uma a seu modo, famílias enfrentam as dificuldades que só elas mesmas conhecem. Filhos crescem e não têm vontade alguma de renunciar a seu quinhão de mundo; pais por sua vez sentem-se perdidos em meio à cornucópia de transformações que interferem na sua própria maneira de levar o que lhes resta de vida, e esse compasso de uma maneira ou de outra, cedo ou tarde, deságua num caos de proporções inéditas e desafiadoras, cuja solução talvez nunca se revele.

Não é exatamente verdadeira a máxima de Tolstói sobre a semelhança fundamental entre as famílias felizes e o signo da exclusividade que rege as famílias pouco afortunadas. Analisando-se a questão com um pouco mais de cautela, conclui-se logo que, também no infortúnio, os microcosmos compostos por pai, mãe e filhos, hoje muito mais amplos, células minúsculas do organismo mastodôntico chamado humanidade e fracassados por razões sobre as quais não é custoso dissertar, têm vários pontos de intersecção uns com os outros.

Na abertura, Ellie discute com o marido, na frente de Kim, a irmã interpretada por Allyn Rachel, e do cunhado Russ, de Tom Segura, porque resolveram fazer a monumental reforma de uma casa em escombros que compraram há algum tempo. A suspeita de que estejam finalmente planejando ter filhos é uma razão a mais de desacerto entre os quatro, uma vez que Allyn também cogita aumentar a família, e contava ficar com o imóvel. 

Anders é hábil em manejar esses conflitos, entremeando-os de blagues ora divertidas, ora nem tanto, até que os personagens de Wahlberg e Byrne chegam mesmo aos irmãos Lizzy, Juan e Lita, separados da mãe alcoólatra e viciada em drogas por Karen e Sharon, as assistentes sociais encarnadas por Octavia Spencer e Tig Notaro. Cada qual em seu momento, Gustavo Quiroz e Julianna Gamiz  elaboram com assombrosa maturidade as inseguranças tão próprias de crianças vindas de um lar desfeito de modo tão definitivo e cruel, mas é Isabela Merced quem rouba a cena na pele de Lizzy, que quer o melhor para os irmãos mais novos, mas não se acerta com os Wagner. Até que o amor, claro, vence.


Filme: De Repente Uma Família
Direção: Sean Anders
Ano: 2018
Gêneros: Comédia/Drama
Nota: 8/10