Se você gosta de ‘Gênio Indomável’, vai gostar do drama europeu que acaba de chegar à Netflix Divulgação / Netflix

Se você gosta de ‘Gênio Indomável’, vai gostar do drama europeu que acaba de chegar à Netflix

O futebol é o esporte mais amado do mundo, e não é de se surpreender que os craques deste esporte se tornem referências para jovens ao redor do globo. A internet os transformou em influenciadores, onde cada detalhe de suas vidas — comportamento, vestuário, calçados, relacionamentos — é minuciosamente observado por todos. Transformá-los em celebridades tão cedo tem um impacto devastador em suas mentes, pois não têm tempo suficiente para amadurecer emocionalmente diante da riqueza e da fama.

Isso se aplica a figuras como Neymar, Messi, Mbappé e Cristiano Ronaldo. Não é à toa que o protagonista de “O Campeão”, Diego (Swit Eme), se assemelhe tanto a Cristiano Ronaldo — os criadores quiseram retratar o personagem de forma extremamente realista. Diego compartilha a mesma vaidade e busca por atenção que Cris. No entanto, suas ações os levam a extremos opostos em termos de comportamento. Enquanto Cristiano Ronaldo é um modelo de conduta humana, o Diego de “O Campeão” é um exemplo terrível. Apesar de ser o astro principal do Atlético de Madri, ele não tem disciplina, respeito e humildade. Sua falta de controle fica evidente quando agride o capitão de seu próprio time após um jogo, resultando em consequências severas para Diego.

Apesar dos excessos de CGI e de algumas cenas dispensáveis, “O Campeão” efetivamente transmite sua mensagem sobre o peso da fama precoce e da responsabilidade que acompanha a dependência de tantas pessoas desses jovens jogadores. O empresário de Diego é seu próprio pai, que interfere diretamente em vários aspectos de sua vida, muitas vezes ultrapassando limites. Onde quer que Diego vá, é constantemente assediado por fãs que não respeitam sua necessidade de espaço e privacidade. Em sua casa, mais de 40 pessoas circulam, cada uma cumprindo uma função dependente de Diego para sobreviver. Além disso, amigos oportunistas frequentemente ocupam a residência, exercendo uma influência negativa sobre ele e impedindo momentos de tranquilidade, descanso e concentração com sua família.

Tanta atenção deixa Diego desorientado. Enquanto se vê como um deus, ele se sente sobrecarregado com as expectativas incessantes. Por trás da imagem egocêntrica e megalomaníaca, esconde-se um garoto assustado e receoso de ser uma fraude. Quando seu agente contrata um psicólogo introspectivo e socialmente ansioso, Álex (Dani Rovira), para ajudá-lo a melhorar seu comportamento, uma transformação significativa começa a se desenrolar.

Com um toque de “Gênio Indomável”, “O Campeão” explora as genialidades e fragilidades de Diego. Durante suas sessões, Álex percebe que Diego, que teve que abandonar a escola muito cedo para perseguir sua carreira no futebol, é disléxico, o que afeta sua autoestima profundamente. Diego teme que todos descubram que ele não é tão inteligente quanto aparenta. Contudo, à medida que Álex o ajuda a superar suas dificuldades com leitura e interpretação, descobre que Diego possui uma habilidade espacial excepcional, fundamental para seu talento como jogador. À medida que convivem e trocam experiências para entender as nuances da vida um do outro, os dois começam a crescer e se transformar, promovendo mudanças significativas um no outro.

O que torna “O Campeão” na Netflix interessante é que o diretor Carlos Therón e os roteiristas Joan Gual e Joaquín Oristrell optaram por não sobrecarregar o filme com cenas melodramáticas para capturar a atenção do espectador. A narrativa flui naturalmente, sem forçar a barra. Além disso, o filme é um deleite para os fãs de futebol, oferecendo uma visão atraente tanto da ficção quanto da realidade do esporte na tela.


Filme: O Campeão
Direção: Carlos Therón
Ano: 2024
Gênero: Drama/Esporte
Nota: 8

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.