O atentado contra Trump criou a 897ª polarização do ano nas redes sociais. De um lado, estão as pessoas que acham que tudo não passou de uma encenação. Do outro, quem não admite que se questione a legitimidade do ocorrido. E, como você sabe, nas redes sociais não existe espaço para meio termo, cada lado quer ser dono da verdade. O que nunca dá certo, já que a verdade odeia usar coleira e morde quem tenta colocar uma nela.
Mas vamos lá, é bom lembrar que o cérebro humano é viciado em fazer conexões. Quando surgem fatos para alimentar a desconfiança, ela cresce naturalmente. E, convenhamos, existe um punhado de circunstâncias estranhas nesse atentado. Para piorar, Trump é um dos reis das fake news. Se você tivesse que pensar em um candidato perfeito para bolar uma armação, é bem provável que pensasse nele.
Lembra do atentado que matou J.F. Kennedy? Ele já foi revirado pelo avesso várias vezes. E muita gente ainda duvida da tese do atirador solitário. É porque na vida real é pouco comum as coisas acontecerem com perfeição. Quando tudo parece perfeito, encaixadinho demais, o cérebro desconfia. Ok, tem muito tapado que cai no conto do dinheiro fácil. Mas são tapados, fazer o quê? Desconfiança diante de fatos chocantes é o nosso padrão. Kurt Cobain não se suicidou, Elvis está vivo e, ei, você sabia que congelaram o corpo de Hitler para ele ressuscitar?
Rolou desconfiança com Kennedy, rola agora com Trump. Um presidente sofre um atentado a bala e se levanta em seguida para gritar “lutem” em frente à bandeira de seu país? Sei não.
Outras pessoas se irritaram com as piadas sobre o atentado. Seria desrespeito com as pessoas envolvidas, já que teve uma pessoa morta e alguns feridos. Desculpem, mas somos brasileiros, nós fazemos piadas com tudo. Se quiser reclamar, vai ter que enfileirar milhões de pessoas. E o alvo principal das piadas é o Trump, que não é conhecido pelo seu respeito aos outros. Aposto como muitos que se irritaram com essas piadas já fizeram piadas com as gafes do Biden. Pra você ver como funciona a coisa: Indignação é mesmo um troço seletivo.
Houve uma época em que fatos chocantes como um atentado geravam a mesma indignação. Mas não sei quando foi isso, pra ser honesto. Estamos assim, agora: sempre desconfiados, irritados e fazendo piadas. Não é o melhor dos mundos, mas é o único que nos resta (ainda).
Você até tem direito de querer que todo mundo concorde com você. Mas já vou avisando: você vai se decepcionar pra valer se insistir nisso. Os únicos bem sucedidos nesse tipo de tarefa são ditadores. Mas não gostamos de ditadores — eu pelo menos não gosto, e você? Não tente ser um. Aceita a discordância que dói menos.