É improvável que hoje em dia o cinema receba produções como “Forrest Gump — O Contador de Histórias”, que combina elementos de sonho e realidade, refletindo os pensamentos mais autênticos e complexos de um homem que sempre se sentiu deslocado no mundo. Este personagem, desde cedo, entendeu que não poderia se adaptar às normas sociais e, portanto, criou um vasto universo particular onde se refugiava, muitas vezes com o escárnio de quem o rodeava.
O filme é fruto da combinação bem-sucedida do roteiro impecável de Eric Roth e Winston Groom (1943-2020), da direção inspirada de Robert Zemeckis, dos efeitos especiais supervisionados por Allen Hall, e, obviamente, do elenco excepcional, liderado por um ator que se arriscou de forma brilhante. Já renomado em 7 de dezembro de 1994, quando o filme estreou, Tom Hanks, com seu carisma e talento, consagrou-se definitivamente como um dos grandes heróis de Hollywood. A humanidade de seu personagem nos faz acreditar que todos possuem um pouco de Forrest, um lado que, ao longo da vida, muitos tentam suprimir, para o bem ou para o mal.
Forrest participou de eventos históricos significativos entre as décadas de 1950 e 1980, possivelmente sendo parente distante de Nathan Bedford Forrest (1821-1877), comandante das tropas do Sul durante a Guerra Civil Americana e o primeiro Grande Mago da Ku Klux Klan. Embora esse detalhe passe despercebido por muitos, ele é crucial para entender a complexidade psicológica de Forrest, um personagem com uma capacidade única de absorver informações sem realmente compreendê-las.
Nas cenas iniciais, é evidente a desconfiança e o medo de uma enfermeira que espera pelo ônibus ao lado de Forrest. Rebecca Williams, que interpreta a enfermeira, passa de uma sensação de repulsa para empatia e, finalmente, para uma admiração silenciosa por ele, antes de partir em sua condução. O filme não aprofunda no possível autismo de Forrest, seja por desconhecimento da época ou para evitar controvérsias. Ao invés disso, foca na relação doentia que ele mantém com sua mãe devotada, interpretada por Sally Field, que engrandece o papel de Hanks e o filme como um todo.
Zemeckis explora a formação social de Forrest, que durante a Guerra do Vietnã torna-se amigo de Benjamin Buford Blue, conhecido como Bubba, um soldado negro cuja deficiência não o impede de servir. Bubba, interpretado por Mykelti Williamson, morre tragicamente, mas sua amizade com Forrest é crucial para o desenvolvimento do protagonista. As inserções históricas, como o atentado contra o governador George Wallace e a presença de Forrest em eventos culturais importantes, sugerem que ele pode ser visto como uma consciência crítica de seu tempo. Forrest, mesmo com suas limitações, segue seu caminho em uma narrativa que, mais uma vez, dificilmente será replicada pelo cinema moderno.
Filme: Forrest Gump — O Contador de Histórias
Direção: Robert Zemeckis
Ano: 1994
Gêneros: Drama/Comédia/Fantasia
Nota: 10