Uma das mais belas histórias de amor do cinema, com Scarlett Johansson e Bill Murray, está na Netflix Divulgação / Focus Features

Uma das mais belas histórias de amor do cinema, com Scarlett Johansson e Bill Murray, está na Netflix

Na rotina diária da existência humana, nada se mostra mais repetitivo e desafiador do que lidar com as pequenas banalidades, uma batalha contínua contra os fantasmas internos que habitam nossas profundezas. Constantemente, todos nós, em maior ou menor grau, nos perguntamos se é possível retornar ao que já fomos um dia. Muitas vezes, perdemos noites de sono, que acabam se estendendo ao nosso trabalho, refletindo e divagando sobre como nossas vidas poderiam ter sido diferentes se tivéssemos feito escolhas distintas.

Gastamos uma energia considerável em meditações inúteis que, apesar de absorventes, não conseguem se sustentar diante da intensidade da vida lá fora. Nos perguntamos o que poderíamos ser se não fôssemos quem nos tornamos, e essa inquietação nos leva a nos perder em labirintos de devaneios que nunca conseguiremos entender completamente, mesmo para nós mesmos. Após todo esse autossacrifício e sofrimento autoimposto, chegamos ao fim de um caminho que não nos leva a lugar algum, carregados de mais perguntas do que quando começamos, sem saber realmente o que desejamos. E completamente exaustos.

Compreender que a vida é uma sucessão de absurdos, cada um com seu próprio fundamento, talvez seja uma das maiores realizações que alguém pode alcançar. O tempo avança implacavelmente, indiferente aos nossos apelos, e um dia percebemos que não temos mais controle sobre o que acontece conosco. Viver torna-se uma brincadeira desinteressante da qual não queremos participar, apesar de estarmos no centro dela. Envolvemo-nos em projetos que não nos representam, que não nos trazem prazer, mas mesmo assim seguimos adiante, teimosos e envergonhados, persistindo em erros que acabarão nos condenando mais cedo do que imaginamos.

Sofia Coppola é uma diretora tão esporádica quanto incisiva. Raras vezes na história do cinema encontramos alguém capaz de, sem perder o humor, expressar o descontentamento que todos sentimos em algum momento, independentemente da fase da vida em que estamos, não em relação ao caos do mundo ou às utopias inalcançáveis, mas sobre as escolhas que fizemos.

 “Encontros e Desencontros” (2003) une um casal improvável, uma dupla que se reconhece ao final de um martírio silencioso e prolongado, precisando recomeçar boa parte de suas vidas antes que seja tarde demais. Filha de um dos mestres do cinema, Sofia utiliza enquadramentos meticulosamente planejados para proporcionar ao público uma visão mais próxima dos sentimentos de seus personagens do que de fato vai-os a cabeça, buscando compreender sua gênese e seus demônios particulares, tal como fez seu pai, Francis Ford Coppola.


Filme: Encontros e Desencontros
Direção: Sofia Coppola
Ano: 2003
Gêneros: Drama/Comédia
Nota: 9/10