Baseado nas teorias de Descartes, David Hume e John Locke, filme da Netflix vai dar um nó no seu cérebro Divulgação / Netflix

Baseado nas teorias de Descartes, David Hume e John Locke, filme da Netflix vai dar um nó no seu cérebro

No “Tractatus Logico-Philosophicus”, Ludwig Wittgenstein (1889-1951) argumenta que a vastidão e a natureza caótica do mundo impedem qualquer linguagem de representá-lo perfeitamente. O máximo progresso que a humanidade pode alcançar é uma compreensão parcial e imaginada da realidade. Para Wittgenstein, o mundo é uma mera representação, um simulacro de sua verdadeira essência, refletindo sua teoria pictórica do significado.

Quando se considera a realidade virtual, surgem questionamentos sobre sua natureza: seria uma extensão dos sonhos ou uma vida inventada? Nenhuma das hipóteses deve ser tomada como capaz de se amalgamar à outra, pois a imersão total nos devaneios poderia levar a consequências desastrosas, como a criação de utopias perigosas que eliminam qualquer forma de falha humana. Essa visão se conecta às ideias de Arthur Schopenhauer (1788-1860), que, em “O Mundo como Vontade e Representação”, postula que a vida é movida por desejos profundos e muitas vezes destrutivos. Schopenhauer sugere que a renúncia a esses desejos é necessária para evitar a propagação da destruição.

Esses filósofos, com suas críticas à natureza humana, continuam relevantes no século 21, alertando sobre a obsessão humana de dominar o tempo e a realidade. No filme “Tau” (2018), dirigido por Federico D’Alessandro, essa temática é explorada através da história de Alex, um gênio que desenvolve um avançado sistema de inteligência artificial e precisa de interações humanas para testar suas falhas.

A trama se desenrola com a captura de Julia, uma jovem que se torna prisioneira de Alex, forçada a interagir com o sistema de IA. A relação entre Julia e a IA, dublada por Gary Oldman, evolui de maneira inesperada, ressaltando as limitações das máquinas em compreender a complexidade humana.

D’Alessandro cria uma atmosfera de terror que se intensifica até o desfecho, com a ajuda da fotografia de Larry Smith. A personagem de Julia, interpretada por Maika Monroe, é introduzida de maneira sucinta, revelando sua vida difícil e seus sonhos de estudar música. A narrativa ganha profundidade ao explorar as interações entre Julia e a IA, levantando questões sobre a essência da humanidade e a capacidade das máquinas de compreender emoções humanas.

“Tau” é uma resposta bem-humorada ao filme “Ex-Machina: Instinto Artificial” (2014) de Alex Garland, defendendo a ideia de que as máquinas podem ser aliadas do homem, quase como animais de estimação. No entanto, a obra de D’Alessandro adverte contra os perigos de confiar totalmente na tecnologia, mantendo um equilíbrio entre a esperança e a cautela em relação ao futuro da inteligência artificial.


Filme: Tau
Direção: Federico D’Alessandro
Ano: 2018
Gêneros: Thriller/Ficção científica
Nota: 8/10