Superprodução épica com Chris Pine, na Netflix Divulgação / Tariq Sheikh

Superprodução épica com Chris Pine, na Netflix

David Mackenzie, conhecido por sua habilidade em trazer à vida histórias complexas e emocionantes, conseguiu mais uma vez impressionar com “Legítimo Rei”. Este filme, que teve a honra de abrir o Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2018, destaca-se pelo uso magistral de tecnologia, como os drones que capturam paisagens deslumbrantes, e a meticulosa recriação de figurinos históricos. As cenas de batalha, coreografadas com precisão, são um testemunho do compromisso de Mackenzie com a autenticidade e a qualidade, transformando um tema historicamente complexo em uma narrativa cativante e relevante.

No coração dessa produção está a figura de Roberto I da Escócia, interpretado por Chris Pine. Pine entrega uma performance notável, personificando o líder visionário e determinado que liderou uma nação contra a dominação inglesa no início do século 14. O filme não se esquiva de mostrar as nuances da personalidade de Roberto, explorando tanto sua força quanto suas fraquezas. A dualidade de seu caráter é um reflexo da própria complexidade da liderança e da luta pela independência.

A história de Roberto I é inserida em um contexto de agitação política e social, onde a Escócia está em um estado constante de turbulência. A direção de Mackenzie captura essa atmosfera de incerteza e conflito, utilizando planos-sequência que realçam a tensão e a dramaticidade do período. A rivalidade entre Roberto e Eduardo I, interpretado por Billy Howle, é um dos pilares do enredo, apresentando um jogo de poder que é tanto pessoal quanto político.

Mackenzie, junto com seus corroteiristas, constrói um roteiro que evita simplificações maniqueístas. Em vez disso, o filme oferece uma visão sofisticada da luta pelo poder, onde heróis e vilões se entrelaçam em uma dança complexa. Esta abordagem narrativa não só enriquece a trama, mas também proporciona uma experiência mais autêntica e envolvente para o público.

Ao longo do filme, a figura de Roberto I é retratada como um líder que, apesar de seus defeitos, possui uma visão clara para seu povo e sua nação. Ele se vê obrigado a tomar decisões difíceis e muitas vezes dolorosas, ilustrando o peso da liderança e os sacrifícios que vêm com ela. A captura de sua esposa, Elizabeth de Burgh, pelas forças inglesas, interpretada com sensibilidade por Florence Pugh, adiciona uma camada emocional à narrativa, destacando o custo pessoal da guerra e da política.

“Legítimo Rei” também se destaca por sua reflexão sobre as monarquias e suas semelhanças com as ditaduras modernas. A luta de Roberto I para manter seu trono e proteger seu povo contra um império mais poderoso ressoa com temas contemporâneos de resistência e liberdade. O filme não se contenta em ser apenas um relato histórico, mas busca provocar uma reflexão mais profunda sobre o poder e sua natureza atemporal.

Apesar de se passar há sete séculos, a história de Roberto I continua a ressoar. O filme lembra que, embora os tempos mudem, os desafios e as lutas pelo poder e pela justiça permanecem constantes. A Escócia, mesmo agora como parte de um sistema democrático, ainda mantém laços com sua monarquia histórica, exemplificados pela ascensão de Charles III ao trono.

Em “O Leopardo”, Giuseppe Tomasi di Lampedusa escreveu que algumas coisas mudam para que tudo permaneça igual. “Legítimo Rei”, na Netflix, de David Mackenzie, é um testemunho poderoso dessa verdade, mostrando que, apesar das mudanças superficiais, as dinâmicas fundamentais de poder e resistência continuam a moldar nossa história.


Filme: Legítimo Rei
Direção: David Mackenzie
Ano: 2018
Gênero: Drama/Ação
Nota: 9/10