Mélanie Laurent continua a solidificar sua transição de atriz para diretora, tendo já conquistado reconhecimento com seus projetos anteriores. Em “As Ladras”, ela reafirma seu compromisso com princípios e visões que o cinema cada vez mais abraça — sejam eles influenciados por uma genuína preocupação com questões sociais ou pelo receio da reação dos ativistas, o que fica em aberto para discussão.
Laurent propõe que há papéis significativos para todos os tipos de atores, especialmente atrizes, e isso é evidenciado na escolha de três gerações de mulheres para o elenco principal. Essa ideia começou a tomar forma durante a produção de “O Baile das Loucas” (2021), que teve grande sucesso entre os jovens na França. Em sua nova obra, Laurent reforça um compromisso com o público e consigo mesma, buscando o inusitado em qualquer lugar, utilizando técnicas e conceitos que já havia explorado de forma mais contida anteriormente.
Mulheres sentem a necessidade de superar expectativas pré-estabelecidas, muitas vezes contrastando com comportamentos masculinos imprudentes que conseguem anular devido à sua evidente infantilidade. Carole, a primeira ladra a aparecer na tela, atravessa um campo de capim na Suíça, observada por Alex, que não lhe oferece a ajuda necessária. Quando finalmente se encontram, Carole questiona a colega sobre tentar resolver problemas amorosos durante a operação, algo que pode colocá-las em risco, mas logo sente compaixão pela colega, paralisada por uma verdadeira prostração.
A química entre Mélanie Laurent e Adèle Exarchopoulos é evidente, especialmente no início da história, adaptada dos quadrinhos de Jérôme Mulot, Florent Ruppert e Bastien Vivès, lançados no Brasil como “A Grande Odalisca” — também o título da famosa pintura de Jean-Auguste-Dominique Ingres (1780-1867). Carole, ansiosa para desfrutar da fortuna acumulada em vinte anos de furtos, estica os limites enquanto ainda pode suportar as dores do ofício, exacerbadas pelo peso dos anos, tema que Laurent aborda com sutileza.
Exarchopoulos personifica perfeitamente a vitalidade da juventude, embarcando em cada aventura seduzida pela possibilidade de uma aposentadoria confortável — se chegar tão longe. No entanto, busca a dose extra de adrenalina em cada missão, acompanhada por Sam, uma ex-piloto de corrida que deixou seu sonho para trás devido à tirania de sua equipe masculina, encontrando um novo propósito com Carole. Manon Bresch completa o trio, trazendo um toque diabólico necessário na transição para o terceiro ato, quando o grupo aceita trabalhar para a Madrinha, interpretada por Isabelle Adjani.
Utilizando elementos de filmes como “Bela Vingança” (2020), dirigido por Emerald Fennell, e “A Bailarina” (2023), de Lee Chung-Hyun, o roteiro de Laurent, Christophe Deslandes e Cédric Anger é eficaz em suas intenções. “As Ladras” aborda questões sérias enquanto entretém e provoca reflexões filosóficas, revelando outra faceta do talento da diretora-roteirista.
Filme: As Ladras
Direção: Mélanie Laurent
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Comédia/Policial
Nota: 8/10