Visto por 30 milhões de pessoas nos cinemas, ação com Tom Cruise está na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Visto por 30 milhões de pessoas nos cinemas, ação com Tom Cruise está na Netflix

O fascínio por figuras humanistas e abnegadas, mesmo quando revestidas de uma aspereza impenetrável, é universal. Esses personagens, que se mantêm distantes dos mortais comuns, são cativantes precisamente porque não ostentam seus poderes excepcionais. O protagonista de “Jack Reacher — O Último Tiro” exemplifica isso. Este filme, o primeiro de uma série que foi interrompida prematuramente — possivelmente devido ao excesso de Tom Cruise em missões de alto risco — destaca a relevância do sofisma explorado aqui. Jack Reacher, um dos personagens mais enigmáticos na carreira de Cruise, é um ex-investigador militar que abandona uma promissora trajetória para se tornar um vigilante autônomo. Ele despreza a monotonia e evita interações desnecessárias: quando a vida se torna entediante, é hora de recomeçar.

O personagem de Reacher, originado no romance “One Shot” do autor inglês Lee Child, é uma combinação de Dirty Harry, James Bond e uma pitada de Hannibal Lecter (excluindo o canibalismo, mas mantendo a psicopatia). Reacher, detalhadamente interpretado por Cruise, é um personagem que, apesar das críticas, demonstra a compreensão profunda de Cruise sobre sua profissão. O ator é conhecido por protagonizar histórias desafiadoras e por realizar suas próprias acrobacias, transformando seu compromisso em um ativo valioso em projetos como este. Essa dedicação reflete um certo desprezo pela vida cotidiana, aproximando o personagem de seu intérprete e criando uma razão convincente para assistir à obra de Christopher McQuarrie.

McQuarrie apresenta Reacher através de um roteiro coescrito com Child, sem grandes reviravoltas. Cruise encarna um personagem em plena missão, observado de um ângulo privilegiado – a perspectiva do atirador. Seis tiros são disparados, mas apenas cinco atingem o alvo; a prisão de James Barr, um veterano do Exército interpretado por Joseph Sikora, catalisa os eventos subsequentes. O detetive Emerson, vivido por David Oyelowo, detém o suspeito, enquanto o procurador Alex Rodin, interpretado por Richard Jenkins, busca a condenação. Rodin é um experiente advogado que se vê em conflito com sua filha Helen, advogada interpretada por Rosamund Pike, que finalmente tem uma chance de brilhar. Helen, desconfiada dos métodos de seu pai, que frequentemente resultam em condenações injustas, oferece um excelente contraponto ao pragmatismo do anti-herói de Cruise. McQuarrie desenvolve habilmente esse conflito, com Pike mostrando seu talento para manipular enredos a seu favor.

Helen decide defender Barr, desafiando seu pai nos tribunais. Enquanto isso, Reacher inicialmente planeja eliminar Barr, mas, ao se aproximar de Helen, reconsidera sua decisão e se alia a ela na defesa do ex-militar, criando uma dinâmica carregada de tensão, mas sem romance explícito.

Apesar de seu enredo centrado na resolução do caso, o filme evita a monotonia, em parte graças à presença do vilão Zec, interpretado por Werner Herzog. Contudo, são as contradições internas de Reacher que realmente elevam o filme, transformando-o em uma obra notável. A performance de Tom Cruise é suficientemente intensa para tornar Reacher um personagem complexo, quase revelando suas vulnerabilidades mais profundas. Quase, porque um certo mistério deve sempre ser mantido.


Filme: Jack Reacher – O Último Tiro
Direção: Christopher McQuarrie
Ano: 2012
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 9/10