Baseado em história real que impactou o mundo, o suspense da Netflix fará 95 minutos parecerem o resto de sua vida Divulgação / Jessica Kourkounis

Baseado em história real que impactou o mundo, o suspense da Netflix fará 95 minutos parecerem o resto de sua vida

Ser mãe desafia qualquer lógica. Durante nove meses, as mulheres carregam uma nova vida dentro de si, um ser que, embora seja uma extensão do próprio corpo, possui um organismo totalmente independente. Após esse período, a criança nasce, e começa a fase de amamentação, que pode durar até dois anos, conforme recomendação de alguns especialistas, algo que algumas mães conseguem seguir. A transição para a mamadeira é gradual, e nesse meio tempo, consomem-se inúmeras fraldas e lenços umedecidos.

 Quando o filho finalmente aprende a usar o banheiro, sob a vigilância constante da mãe, ocorre a primeira separação, um momento angustiante para ambos, cada um à sua maneira. Na escola, a criança, em constante desenvolvimento, descobre que não está sozinha e precisa competir pelo espaço, brinquedos, atenção da professora e o desejo de se destacar. Em menos de cinco anos, a mulher que decidiu gerar uma nova vida enfrenta o fato de que, apesar do instinto materno e das teorias simplistas de alguns guias de educação infantil, os filhos desde cedo buscam se diferenciar de seus pais.

A reação a essa natural rebeldia varia: algumas mães fingem aceitar o crescimento dos filhos, mas continuam a controlar suas vidas sob o pretexto de amor; outras acreditam que amar é permitir total liberdade, na esperança de que os filhos façam sempre boas escolhas. Muitas vezes, porém, os filhos buscam uma felicidade que pouco tem a ver com a verdadeira realização, e corrigir essa trajetória errada pode ser uma tarefa impossível para essas mães.

Diretores de documentários costumam abordar temas de maneira mais concreta, ao contrário dos cineastas de ficção, que frequentemente recorrem à imaginação. “What Happened, Miss Simone?” (2015), vencedor do Emmy de Melhor Documentário, colocou Liz Garbus em destaque em Hollywood. O filme, que utiliza extensas imagens de arquivo para retratar a vida da cantora e ativista Nina Simone, estreou no Festival Sundance de Cinema em 2015 e foi indicado ao Oscar no ano seguinte.

Este sucesso abriu portas para Garbus no mundo da ficção, culminando na produção de “Lost Girls: Os Crimes de Long Island”. Este filme aborda um caso real não resolvido que chamou a atenção da mídia e questionou a eficácia da polícia americana. A transição de Garbus para a ficção foi natural, utilizando sua experiência documental para dar verossimilhança à história, com a colaboração do roteirista Michael Werwie, conhecido por “Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal” (2019). O elenco, liderado por Amy Ryan, reflete essa dedicação.

Amy Ryan interpreta Mari Gilbert, uma personagem constantemente assombrada por tensões — pobreza extrema, irrelevância social, solidão. A situação se agrava quando sua filha Shannan, interpretada por Sarah Wisser, desaparece em Ellenville, Nova York, em maio de 2010. A última a falar com Shannan foi sua irmã Sherre, interpretada por Thomasin McKenzie, indicando um distanciamento entre mãe e filha. A família percebe a gravidade da situação quando a polícia confirma ter recebido uma chamada de emergência de Shannan na noite anterior. Este evento desencadeia uma série de investigações, com Mari e o comissário Richard Dormer, interpretado por Gabriel Byrne, expondo a ineficácia policial em resolver crimes que vitimam os pobres. A descoberta de corpos de quatro prostitutas em um terreno sugere a atuação de um serial killer, levando Mari a conclusões dolorosas sobre sua filha e suas próprias falhas como mãe.

“Lost Girls: Os Crimes de Long Island” poderia facilmente se tornar um melodrama moralista, mas Liz Garbus evita esse risco, mantendo o foco no subtexto emocional do filme. A entrada de Reed Birney como o suspeito Dr. Peter Hackett adiciona tensão, mas Garbus prefere explorar as camadas emocionais da narrativa, culminando em uma poderosa mensagem final. O filme é um exemplo de como mesclar técnicas documentais com suspense, resultando em uma obra que, embora breve, é profundamente impactante.


Filme: Lost Girls: Os Crimes de Long Island
Direção: Liz Garbus
Ano: 2020
Gêneros: Drama/Mistério
Nota: 9/10