Eloise Turner, protagonista do filme “Noite Passada em Soho”, enfrenta um dilema que não está diretamente relacionado à sua identidade. Seu verdadeiro desafio é harmonizar seus desejos intrínsecos com sua essência, desafiando as expectativas do mundo ao seu redor. Ela se vê como uma garota antenada, cujos gostos estão em perfeita sintonia com as normas estabelecidas pela sociedade. No suspense tragicômico dirigido por Edgar Wright, com roteiro dele e de Krysty Wilson-Cairns, há uma série de referências à cultura pop, especialmente ao rock e punk da Londres dos anos 1960, que enchem a trama de vigor e um encantador toque vintage que se alinha perfeitamente com a personalidade de Ellie. No entanto, uma reviravolta significativa ameaça desestabilizar tudo.
A mudança para Londres, onde Ellie pretende estudar moda, é recebida com entusiasmo tanto por ela quanto por sua avó Peggy, interpretada por Rita Tushingham. Ellie começa a arrumar sua extensa coleção de discos, determinada a não voltar atrás, sem saber que a vida adulta raramente permite tempo suficiente para desfrutar dessas pequenas alegrias. Ao chegar à capital inglesa, Ellie traz consigo a ambição ardente típica dos jovens, mas logo se vê envolvida em situações extremas enquanto explora o bairro vibrante mencionado no título do filme. Ela é rapidamente confrontada com os aspectos mais sombrios da sordidez humana, um cenário novo e inesperado com o qual precisa aprender a lidar rapidamente.
Inicialmente, Ellie acredita que encontrará grandes amizades entre suas novas colegas, perseguindo a ilusão de felicidade. No entanto, ela logo percebe que o mundo é, como na alegoria da caverna de Platão, apenas uma representação das projeções internas de cada indivíduo, repletas de idiossincrasias pessoais. Na primeira noite, em uma festa com o grupo liderado por Jocasta, Ellie despede-se de forma melancólica das ilusões de ser aceita. Nos primeiros momentos do filme, a rivalidade entre Ellie (Thomasin McKenzie) e Jocasta (Synnøve Karlsen) é evidente, mas o diretor reserva um brilho especial para sua protagonista.
Thomasin McKenzie, recuperando a doçura de sua personagem em “Sem Rastros” (2018), de Debra Granik, adiciona uma surpreendente maturidade ao papel de Ellie. Ela encontra o contraponto perfeito na Sandy de Anya Taylor-Joy, cuja performance intensa contribui para a complexidade da trama. O filme requer a boa vontade do espectador para aceitar a sofisticação e a densidade da história, refletindo a própria natureza da vida.
Filme: Noite Passada em Soho
Direção: Edgar Wright
Ano: 2021
Gêneros: Terror/Mistério/Comédia
Nota: 9/10
