Considerada a melhor atuação da carreira de Kate Winslet, adaptação de best seller está na Netflix Divulgação / The Weinstein Pictures

Considerada a melhor atuação da carreira de Kate Winslet, adaptação de best seller está na Netflix

Escrito pelo autor alemão Bernhard Schlink e publicado em 1995, “O Leitor” narra o controverso romance entre uma cobradora de trem de 36 anos, chamada Hanna, e o adolescente estudante Michael Berg, de 15. Eles se conhecem durante o verão, na década de 1950, e a relação evolui para uma conexão apaixonada e carnal. Hanna é analfabeta, e Michael desenvolve o hábito de ler para ela. Eles se encontram diariamente após as aulas do adolescente, até que, um dia, ele chega ao apartamento de Hanna, que está vazio.

A adaptação cinematográfica de 2008 conta com Kate Winslet e David Kross nos papéis principais. O ator Ralph Fiennes interpreta Michael no terceiro ato do filme, que se passa entre os anos de 1980 e 1990. Dirigido por Stephen Daldry, o longa-metragem foi indicado a cinco estatuetas do Oscar e acabou faturando a de Melhor Atriz para Winslet.

Anos após Hanna ter desaparecido da vida de Michael, ele a reencontra no tribunal. Ele é um estudante de direito, que acompanha o julgamento dela e de outras mulheres, acusadas de manterem judias presas em uma igreja em chamas. Michael é levado a assistir e estudar o julgamento ao lado de seus colegas pelo professor universitário Rohl (Bruno Ganz). As aulas os fazem refletir sobre os dilemas morais e éticos das acusadas, sua responsabilidade no ocorrido e a culpa coletiva pelo Holocausto.

Michael, ao contrário de seus colegas, não consegue odiar Hanna porque a conhece mais profundamente. Ele sabe quem ela era pessoalmente, fora de sua função, décadas antes, como guarda da SS, a polícia nazista. Por outro lado, a narrativa de Schlink traz profundas reflexões aos leitores e aos espectadores do filme sobre se a culpa pode ou não ser justificada.

Para Michael, Hanna agiu mecanicamente, cumprindo suas obrigações profissionais, sem consciência das implicações morais de sua atitude. Ele acredita que, por ela ser analfabeta, não teve oportunidade de desenvolver pensamento crítico sobre as coisas e o mundo. Essa ideia se respalda pela rigidez e competência de Hanna como cobradora, que chega a ser promovida de seu cargo, e também por sua relação com um garoto menor de idade, que parece provar que seu juízo é afetado. A justificativa de Michael é um tanto absurda para seus colegas. É a chamada “Vergangenheitsbewältigung”, em que a desnazificação das gerações seguintes ocorre com o enfrentamento e a condenação ao passado.

Michael percebe que pode influenciar no julgamento de Hanna, provando que ela não sabia escrever e, portanto, não poderia ter escrito o relatório que a culpabiliza pelo ocorrido. No entanto, escolhe por não interferir. Tudo o que viveu com Hanna e sua escolha durante o julgamento trazem pesos permanentes para sua vida adulta.

Enquanto a linguagem simboliza a conexão entre os amantes, ela também significa a dificuldade de compreensão de Hanna sobre o peso de suas atitudes. Para Schlink, a falta de alfabetização da protagonista é uma fraqueza debilitante não apenas para a comunicação, mas para o caráter, impedindo-a de ter maior compreensão moral. Com isso, o escritor sugere que as ações são, muitas vezes, motivadas pela ignorância e que a falta de linguagem também afeta o julgamento crítico.

No entanto, o autor não absolve Hanna de sua culpa. Ela não apenas é condenada pela justiça estatal, mas também pela própria consciência, depois que se alfabetiza dentro da cadeia.

“O Leitor”, na Netflix, é extremamente intenso, profundo e complexo, trazendo discussões que ultrapassam o veredito do certo e errado.


Filme: O Leitor
Direção: Stephen Daldry
Ano: 2008
Gênero: Drama/Romance/Mistério
Nota: 9