“Sem canções ou danças o que seria de nós?”, pergunta, ou melhor, canta Amanda Seyfried no prólogo de “Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo!”. O segundo longa da sequência dispõe de ainda mais coreografias com as músicas do ABBA ao fundo, e agora o diretor Ol Parker volta ao começo de tudo, quando, aos vinte e poucos anos, a Donna Sheridan de Meryl Streep resolve ficar em Kalokairi, o paraíso no meio do azul profundo do mar Egeu criado por Catherine Johnson, sem saber que estava grávida depois de três casos fortuitos com homens que ela conhece por lá.
O roteiro de Parker, Johnson e Richard Curtis corre em dois sentidos opostos, mas que confluem, indo e vindo para o presente, quando Sophie, a filha de Donna vivida com toda a graça por Seyfried, organiza sua festa de casamento, e duas décadas e meia atrás, nas horas dionisíacas da mãe e suas três paixões, e nos nove meses que antecedem a agonia de uma parição quase solitária, assistida apenas pela dona do casarão que transformaria num resort intimista depois de anos e anos de trabalho e privações.
“Mamma Mia!” está para Streep como “Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo!” está para Seyfried — e o fato de Donna sair de cena de uma vez por todas, misteriosamente, é só um detalhe — e essa é a equação perfeita para que um filme banal torne-se algo mais que diversão fácil. Na pele da jovem Donna, Lily James encabeça o núcleo do flashback, explicando a postura libertária da personagem cerca de um quarto de século à frente, e ainda que não se pareça em nada com a veterana, sua interpretação salva o enredo de potenciais desastres, como também o fazem Jessica Keenan Wynn e Alexa Davies, nessa ordem, as versões mais frescas de Tanya e Rosie, as melhores amigas de Donna, originalmente incorporadas por Christine Baranski e Julie Walters.
A certa altura do segundo ato, Rosie parece disposta a reivindicar a atenção de Bill, o galã a que Stellan Skarsgård dera vida no longa de Phyllida Lloyd, aqui encarnado por Josh Dylan. Ele é o primeiro a dividir a alcova com Donna, que, como se sabe, conhece também Sam e Harry, agora de Jeremy Irvine e Hugh Skinner, mas que surgiram antes na figura de Pierce Brosnan e Colin Firth.
Skarsgård, Brosnan e Firth também estão de volta em passagens bissextas, e bem mais solta, Seyfried lidera um belo número musical entoando os versos de, claro, “Dancing Queen” (1975), em homenagem a Donna, a verdadeira rainha da dança. O trio de protagonistas masculinos cede espaço a Andy Garcia e seu Fernando Cienfuegos, o administrador da vila, e pouco depois ainda há tempo para a performance que fecha “Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo!” com o glamour que se espera. Ruby, a avó de Sophie — megera, sim, e muito mais exuberante que a filha, que volta — leva um dueto com o personagem de Garcia em “Fernando“ (1976), como não poderia ser de outro modo nessa louca celebração da vida sobre a morte que mais lembra um porre de ouzo.
Filme: Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo!
Direção: Ol Parker
Ano: 2018
Gêneros: Musical/Comédia
Nota: 8/10