O filme com Meryl Streep, que todas as pessoas deveriam assistir ao menos uma vez, chegou à Netflix Divulgação / Universal Pictures

O filme com Meryl Streep, que todas as pessoas deveriam assistir ao menos uma vez, chegou à Netflix

“Mamma Mia!” é um prato cheio para quem gosta de musical, e, por evidente, para quem gosta de “ABBA”. A adaptação de Phyllida Lloyd para o espetáculo concebido por Catherine Johnson, cuja estreia em Londres se deu em 6 de abril de 1999, conserva a aura de magia que os suecos Agnetha Fältskog, Björn Ulvaeus, Benny Andersson, e Anni-Frid Lyngstad deixaram no showbiz entre 1972 e 1982, uma década de hits que pipocam na tela ao longo de 108 minutos, levando fãs ao delírio em meio à tentativa de se contar a história de uma mulher libertária e seus três namorados em pouco mais de um mês, o que desencadeia o conflito sobre o qual roteiro da própria autora se fundamenta.

Como sói acontecer nesses casos, os números de canto e dança quase pueris acabam por cansar aqueles que não veem muita graça em histórias que se desenvolvem em torno de melodias açucaradas sobre o amor e a falta dele, a alegria de viver e, por surpreendente que pareça, em que medida ter ou não dinheiro impacta uma e outra coisa. Mas a afinação do elenco minimiza o tédio de quem acompanha a história por algum motivo alheio a sua vontade, e, a certa altura, “Mamma Mia!” chega a superar as expectativas.

Uma voz feminina entoa uma canção sobre sonhos remando num barco ao luar da Grécia na abertura, uma estratégia certeira quanto a fisgar os mais renitentes. Sophie é a filha de Donna, a proprietária de um resort de verão intimista na fictícia Kalokairi, ilha no meio do azul profundo do mar Egeu, e aos vinte anos está prestes a se casar com Sky, o mocinho interpretado por Dominic Cooper. Lentamente, a diretora elabora as diferenças essenciais entre mãe e filha, explicitadas no diário cor-de-rosa que a garota encontra num fundo de baú, onde Donna revela ter mantido casos fortuitos com três homens entre julho e agosto do ano anterior em que Sophie nasceu, coincidindo com os nove meses que duram uma gestação normal. Ninguém precisa ser gênio para imaginar o que virá disso, e na vespera da cerimônia Bill, Harry e Sam chegam juntos a Kalokairi, pouco depois de Rosie e Tanya, as melhores amigas da anfitriã e mãe da noiva. 

“Mamma Mia!” passa a correr em dois sentidos opostos, mas que confluem depois de certo tempo. Lloyd primeiro centra seus esforços em nas destrinchar a relação de Donna, Rosie e Tanya, proporcionando à audiência cenas em que Meryl Streep, Julie Walters e Christine Baranski situam o filme em categorias não muito óbvias para um musical que atravessou o Atlântico e ganhou a Broadway, momento em que tornam-se tão nítidas quanto possível as incoerências e receios de um trio de mulheres bem-sucedidas cada qual a seu modo.

No caso de Donna, muito de sua aversão a compromisso, rotina, relacionamentos que não demoram a ficar monótonos e até burocráticos, justifica a visão de mundo sadiamente conservadora de Sophie, que não faz nenhuma questão de ser uma rainha dançante. No núcleo masculino, Pierce Brosnan rouba a cena interpretando “SOS” (1975) em dueto com Streep, ao passo que Colin Firth e Stellan Skarsgård se encarregam da substância dramática que mantém aquele esplendor de pé, mais presente em “Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo!” (2018), a prequela dirigida por Ol Parker. 


Filme: Mamma Mia!
Direção: Phyllida Lloyd
Ano: 2008
Gêneros: Musical/Comédia
Nota: 8/10