Visto por 157 milhões de pessoas, filme é um dos três mais assistidos da história da Netflix Doane Gregory / Netflix

Visto por 157 milhões de pessoas, filme é um dos três mais assistidos da história da Netflix

“O Projeto Adam” começa de forma hesitante. Shawn Levy, diretor de “Free Guy: Assumindo o Controle” (2021), retorna com uma abordagem envolvente sobre a maleabilidade do tempo, integrando habilmente elementos de crítica social e distopia em sua narrativa sem adotar uma postura proselitista. Com Ryan Reynolds novamente no papel principal, Levy explora a fragilidade humana e a busca incessante por redenção, mostrando um protagonista que, apesar de suas falhas, possui uma profundidade emocional que ressoa ao longo do filme. Levy investiga o conceito de que cada época enfrenta seus próprios desafios, alguns mais fáceis de superar que outros, e pondera sobre a atração do homem por corrigir ou evitar erros do passado, apesar das possíveis consequências devastadoras dessas ações.

Ryan Reynolds entrega uma atuação marcante como Adam Reed, um personagem deslocado e cínico, que emerge lentamente mas revela sua missão desde a primeira cena. Adam pilota desajeitadamente um jato em uma tentativa de viajar dos anos 2050 para 2022, utilizando um artifício comum de viagens temporais para interferir em eventos que o afetam pessoalmente.

O roteiro, assinado por Jonathan Tropper, Mark Levin, Jennifer Flackett e T.S. Nowlin, constrói um protagonista multifacetado que reflete sua versão mais jovem, interpretada por Walker Scobell. Aos 12 anos, Adam enfrenta suspensões escolares e lida com a sensação de ser um pária, ao mesmo tempo que demonstra uma racionalidade surpreendente para sua idade, especialmente nas interações com sua mãe, Ellie, interpretada por Jennifer Garner. Levy captura o amor e o pesar de Ellie, que ainda sofre com a recente perda do marido, mantendo-se presa a memórias dolorosas.

O encontro entre os dois Adams, vivido por Reynolds e Scobell, destaca a química entre os atores e a coerência na construção do personagem. O Adam do presente, desconectado e sarcástico, inicialmente não reconhece sua versão mais jovem, mas aos poucos, percebe que ambos compartilham as mesmas fraquezas e que precisam de amor e tolerância para seguir em frente. A transformação de Adam, de um garoto ingênuo a um homem determinado, é evidenciada pela interação entre suas duas versões.

Embora o filme apresente suas melhores partes até esse ponto, as reviravoltas típicas da ficção científica tomam o centro da narrativa. Elementos de filmes como “O Exterminador do Futuro” (1984) e “De Volta para o Futuro” (1985) são evidentes, com referências a “Alta Frequência” (2000) e episódios de “Guerra nas Estrelas”. Personagens como Louis, o pai de Adam, interpretado por Mark Ruffalo, e Laura, sua mulher, vivida por Zoe Saldaña, são arrastados por cenários futuristas sem grandes inovações, lembrando confrontos familiares de sagas conhecidas. As lutas de Adam e Laura contra a vilã Maya Sorian, de Catherine Keener, apesar de bem coreografadas, parecem desatualizadas.

A premissa de reviver detalhes esquecidos de um personagem messiânico ou impedir a ascensão de tiranos sugere uma grande revolução, mas Levy também destaca os problemas que tais ações trariam, considerando a incapacidade humana de resolver os dilemas do passado. O verdadeiro mérito de “O Projeto Adam”, na Netflix, está em sua capacidade de analisar uma mesma pessoa sob diferentes perspectivas, ressoando profundamente com qualquer espectador. Todos temos um pouco de Adam Reed, lidando com os desafios da vida e buscando transformar adversidades em oportunidades para mudanças significativas, sem rancores e resistindo à tentação de culpar outros pelos nossos problemas.


Filme: O Projeto Adam
Direção: Shawn Levy
Ano: 2022
Gêneros: Ficção Científica/Drama/Aventura
Nota: 8/10