Uma das maiores histórias de amor do cinema de todos os tempos está na Netflix Divulgação / Warner Independent Pictures

Uma das maiores histórias de amor do cinema de todos os tempos está na Netflix

Durante uma era passada, os romances dominaram Hollywood como o gênero mais popular. Atualmente, embora as comédias românticas sejam abundantes, os dramas românticos sérios, capazes de sustentar uma narrativa pela força da premissa de que o amor supera todas as adversidades, são raros e frequentemente situados em tempos passados. Isso ocorre porque, na atualidade, onde o sexo é onipresente, as histórias de amor perdem parte de seu impacto. “O Despertar de Uma Paixão” (2006), baseado no livro de William Somerset Maugham de 1925, mantém-se relevante e artisticamente significativo ao explorar o amor como um mestre insubstituível na vida.

A interpretação do diretor John Curran para o romance de Maugham preserva a essência da trama. Kitty, interpretada por Naomi Watts, enfrenta a pressão dos pais mais preocupados com seu status de solteirona do que ela mesma. Filha mais velha de um cientista e de uma mãe que renunciou aos próprios sonhos para servir ao marido, seus pais desejam para ela um destino convencional, apesar de ela não enxergar problema em permanecer solteira. Com os comentários da mãe se espalhando além do núcleo familiar, a situação se torna insustentável.

Walter Fane, um biólogo pragmático e apaixonado, interpretado por Edward Norton, anseia por Kitty, apesar de nunca ter recebido incentivo dela. Norton traz ao personagem uma austeridade que se dissolve organicamente em um amolecimento emocional, um milagre do amor. O espectador rapidamente entende que ambos são vítimas das convenções sociais e, por motivos semelhantes, se veem obrigados ao matrimônio. Fane, com pouco tempo antes de retornar à China para combater doenças epidêmicas, pede a mão de Kitty de maneira desajeitada. Com medo da pressão materna, Kitty acaba aceitando, e os dois se casam sem romance ou emoção.

Curran, também responsável por “Tentação” (2004), estrelado por Watts, engrandece a obra de Maugham ao não omitir detalhes do texto original. O roteiro de Ron Nyswaner questiona a necessidade do casamento, sugerindo que duas pessoas infelizes não se tornarão mais felizes apenas por se unirem. Na China dos anos 1920, a trilha sonora de Alexandre Desplat acentua a solidão dos protagonistas, com notas de piano que evocam memórias e fantasmas do passado. A convivência em um ambiente hostil e atrasado agrava suas dificuldades, onde uma doença contagiosa não poupa ninguém.

A trama se complica quando Kitty, entediada, se envolve com Charlie Townsend, um diplomata sedutor e casado, interpretado por Liev Schreiber. Este relacionamento extraconjugal traz consequências significativas até o final do filme. A dificuldade de Kitty em aceitar sua realidade é quase cômica; ela se comporta como a adolescente mimada que era, manipulando Fane e Townsend sem remorso. Watts transmite a leviandade e a impulsividade de Kitty, contrastando com a performance de Greta Garbo na adaptação de 1934. A interpretação de Watts é mais intensa e determinada, enquanto sua personagem se perde em seus próprios erros.

A acrimônia das vidas de Kitty, Fane e, em menor grau, Townsend, é constante. Kitty, no entanto, recebe uma oportunidade de mudança, que ela abraça, rejeitando uma reconciliação com Townsend após a saída definitiva de Fane. Para que “O Despertar de Uma Paixão” se tornasse o filme definitivo sobre romances fracassados e renascimentos espirituais, faltou apenas que Kitty abandonasse o véu colorido de sua vida passada para adotar um novo, simbolizando um casamento mais feliz, livre das sombras do passado.


Filme: O Despertar de Uma Paixão
Direção: John Curran
Ano: 2007
nero: Romance/Drama
Nota: 10/10