Ganhador do Oscar, um dos romances mais encantadores da história do cinema está na Netflix Divulgação / Sony Pictures Classics

Ganhador do Oscar, um dos romances mais encantadores da história do cinema está na Netflix

O tempo é o implacável juiz de nossas vidas, constantemente lembrando-nos de sua inevitabilidade através da morte. Desde que a humanidade começou a se entender, está em uma luta contínua contra esse oponente invencível, independentemente de quanto tempo passe. Este algoz implacável nos permite a ilusão de felicidade, enquanto estamos essencialmente destinados a perseguir uma felicidade ilusória.

 O mundo é, como na alegoria da caverna de Platão, uma representação de nossas percepções e idiossincrasias, mantendo-nos confinados em nossos sonhos e ilusões. A ditadura do tempo é uma realidade que transcende nossa compreensão limitada, e enquanto houver vida, o tempo existirá. O grande dilema humano não é o avanço inexorável das horas, mas encontrar um meio de descobrir alegria em meio ao desespero.

Woody Allen tem uma habilidade notável em mascarar a banalidade do tempo. As histórias que ele narra sempre contêm um toque de magia, algo que as pessoas comuns desejam em suas vidas cotidianas. Allen, um dos diretores mais prolíficos, nos ensina com seu 41º filme que, embora viver seja um desafio constante, encarar a vida como uma série de oportunidades é essencial. “Meia-Noite em Paris” (2011) é uma dessas tentativas fervorosas de Allen em nos despertar para essa realidade.

Gil Pender é um homem à beira do colapso. Outro dos muitos alter egos de Allen, Pender está prestes a abandonar tudo, mesmo sem perceber ou saber como. Com um roteiro meticuloso, repleto de diálogos brilhantes e reflexões filosóficas originais, Allen explora o grande dilema existencial de seu protagonista até alcançar um desfecho milagrosamente coerente. Owen Wilson, conhecido por performances inconsistentes, oferece uma atuação surpreendente, sustentando uma trama cheia de interseções inesperadas. “Meia-Noite em Paris” navega entre o presente e o passado de maneira tão natural que ninguém questiona sua lógica.

Allen desenvolve o conflito central de seu personagem usando a história como um trampolim para mergulhos mais profundos. Pender, um roteirista de filmes comerciais que sonha em escrever um romance sério, entra em confronto com Inez, sua noiva fútil interpretada por Rachel McAdams. Inicialmente, torcemos para que o casal se acerte, mas logo percebemos que é uma causa perdida. Quando Pender recusa um convite de Paul (Michael Sheen) para uma noite parisiense, ele atravessa a ponte metafórica que o separa do mundo que deseja e encontra personalidades históricas como Zelda e F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Gertrude Stein, Alice B. Toklas, Pablo Picasso, Salvador Dali, Cole Porter, Man Ray, e Luis Buñuel.

A verdadeira lição que Allen nos oferece é sobre os perigos de se estar insatisfeito com o próprio tempo. O tempo e o mundo são moldados por nossas ações e percepções. “Meia-Noite em Paris” é um filme imperdível, especialmente em uma época tão sombria deste século turbulento.


Filme: Meia-Noite em Paris
Direção: Woody Allen
Ano: 2011
Gêneros: Ficção científica/Fantasia/Romance/Comédia
Nota: 10