No Prime Video, um dos filmes mais assistidos de 2024 vai deixar você sem fôlego, literalmente Divulgação / Diamond Films

No Prime Video, um dos filmes mais assistidos de 2024 vai deixar você sem fôlego, literalmente

A morte ataca em todas as frentes em “Desespero Profundo”. Depois de cair no oceano Pacífico, os passageiros e os tripulantes de um avião se veem disputando cada metro cúbico de oxigênio, enquanto vão se dando conta de que também precisam lutar contra gigantescos tubarões que ameaçam despedaçar a fuselagem e acabar com o que resta da tênue esperança de serem resgatados, justificando o título sensacionalista.

O filme de Claudio Fäh acerta o alvo ao conseguir manter o terror de uma história que prima pelo absurdo, juntando num cenário claustrofóbico uma fauna humana diversa, forçada a conviver — e quiçá acostumar-se à morte — debaixo de uma massa de água inalcançável. Aos poucos, o roteiro de Andy Mayson trata de deixar inequívoco o propósito de lidar com questões como destino, a efemeridade da vida, a falsa sensação de controle que algumas pessoas insistem em alimentar sobre tudo quanto diga respeito à inconstância mesma do existir. E a metáfora do mar e seus perigos ocultos passa a fazer ainda mais sentido. 

Em tempos de negacionismo, a natureza se encarrega de gritar para o homem que não ignore as evidências, arroste os problemas, tenham a gravidade que tiverem, e resolva-os. Em “Tubarão” (1975), verdadeiro paradigma do suspense, Steven Spielberg atesta que o homem erra e segue errando quanto a compreender a ciência — e o próprio mundo —, sendo quase sempre ele mesmo o culpado pelas tantas catástrofes que o vitimam. No caso de Ava, a filha de um governador da Califórnia que tenta a reeleição, vai a Cabo San Lucas, balneário do México na fronteira com o estado americano, e os amigos Jed e Kyle, interpretados por Jeremias Amoore e Will Attenborough, eles não tem nenhuma responsabilidade acerca do horror que passam a viver com a queda do avião em que estavam com outras dez pessoas, ainda que o personagem de Attenborough se achasse no direito de espinafrar Danilo, o comissário de bordo gay de Manuel Pacific.

Homo sapiens sapiens tornamo-nos peritos em devorar-nos uns aos outros desde que o mundo é mundo, e continuamos abrindo caixas de Pandora para muito além do tropo da mitologia grega antiga —, descompasso ético-cognitivo que há de abreviar nossa marcha rumo à Terceira Guerra Mundial, com ogivas nucleares saltando de Pyongyang para Teerã, de Teerã para Ancara, de Ancara para Washington, de Washington para Marte, até, finalmente, voltarmos todos à condição de poeira cósmica de onde surgimos, num buraco negro a centenas de milhões de anos-luz daqui. “Desespero Profundo” não desce tanto, mas sente-se no ar cada vez mais rarefeito que aquelas disputam como um troféu que o resgate milagroso é uma hipótese com a qual não podem contar, e Fäh sabe usar de sutileza e voltar a bateria para temas para além do argumento central, reforçando o questionamento sobre se Ava, com Sophie McIntosh mantendo o interesse do espectador, e seus amigos merecem ser salvos. 


Filme: Desespero Profundo
Direção: Claudio Fäh
Ano: 2024
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 8/10