O casamento é uma instituição frequentemente admirada, apesar de muitas vezes ser considerada falida. A união de duas pessoas em um casal reconhecido socialmente pode começar de maneira promissora e terminar mal, ou vice-versa. No entanto, sem a presença do amor, é impossível manter a saúde mental em uma relação. Aceitando essa premissa óbvia, pode-se supor que qualquer tentativa de desonrar o matrimônio, seja por razões aparentemente nobres ou emergenciais, levaria à infelicidade inevitável.
Contudo, essa conclusão não é absoluta. Viver com outra pessoa, mesmo por razões equivocadas, eventualmente desperta sentimentos inesperados, que podem criar raízes profundas, resistentes aos desafios. Experimentar um amor que se manifesta de forma duradoura no cotidiano é um privilégio raro, e, por isso, menosprezá-lo é uma crueldade.
A diretora Elizabeth Allen Rosenbaum, em seu filme “Continência ao Amor” (2022), oferece uma homenagem despretensiosa ao amor genuíno, capaz de redimir o mal por meio de sua pureza. Utilizando a poderosa, embora clichê, ideia do amor invencível, especialmente em tempos de guerra, Rosenbaum defende as ações de seus protagonistas ao longo da história, adaptada do romance de Tess Wakefield.
Desde o início do filme, baseado no roteiro de Kyle Jarrow e Liz W. Garcia, fica evidente a intenção da diretora de retratar o amor, ou a promessa de amor, descrito por Wakefield de maneira muito inicial e frágil, como um ser recém-nascido, vulnerável e muitas vezes considerado um fardo ou ameaça.
Sofia Carson, conhecida por seu trabalho na Disney, interpreta Cassandra, ou Cassie, com competência. Ela é a típica jovem americana determinada e ambiciosa, semelhante à personagem de “Uma Secretária de Futuro” (1988). Trabalhando como garçonete em um pub em Austin, Texas, Cassie descobre que tem uma forma grave de diabetes, o que a impede de pagar suas contas, incluindo a medicação essencial.
Sabendo que soldados têm direito a assistência médica especial, ela propõe um casamento de conveniência a um amigo, interpretado por Chosen Jacobs, que recusa. No entanto, Luke, um fuzileiro naval vivido por Nicholas Galitzine, aceita o acordo para resolver seus próprios problemas financeiros com os benefícios destinados a recrutas recém-casados. Prestes a ser enviado ao Iraque, Luke precisa regularizar sua situação financeira para proteger sua família.
O filme sugere, de maneira sutil, que não há personagens totalmente bons ou maus, refletindo casamentos tumultuados que muitas vezes resultam em violência física ou abuso psicológico, semelhante ao retrato de “Uma Mulher sob Influência” (1974) de John Cassavetes, mas invertendo os papéis de gênero. “Continência ao Amor” não pretende ser uma obra-prima como os filmes de Cassavetes, mas como uma história essencialmente romântica, cumpre seu propósito, explorando os desafios enfrentados pelos personagens. E isso é suficiente.
Filme: Continência ao Amor
Direção: Elizabeth Allen Rosenbaum
Ano: 2022
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10