Comédia espanhola que acaba de estrear na Netflix é o filme mais engraçado que você verá neste final de semana Divulgação / Atresmidia

Comédia espanhola que acaba de estrear na Netflix é o filme mais engraçado que você verá neste final de semana

A preposição errada é capaz de derrubar um político. Essa sentença pode ser um tanto exagerada, mas cabe perfeitamente em “Politicamente Incorretos”, a sátira de Arantxa Echevarría sobre a importância forçada de conceitos como esquerda e direita em tempos de irreversível polarização ideológica. O que fica mais e mais patente a cada cena é que, por debaixo dos panos, quando ninguém vê, os poderosos do mundo e seus asseclas se unem nos conchavos em que sempre saem ganhando, ao passo que o povo serve apenas para, de quando em quando, renovar o beneplácito que concede-lhe meio às escuras, sem entender direito o que se passa e muito menos o que há de vir de sua ignorância disfarçada de bênção. 

No espaço de um instante, aceitar o outro não como o concebemos, mas da forma que ele é de fato, almejando intimamente que se arrependa de suas faltas e mude, de postura, de comportamento, mude sua forma de ver a vida, mude de vida, enfim, enquanto nos policiamos a fim de não nos tornarmos ranzinzas, preconceituosos, intolerantes, é uma tarefa inglória.

Compreender as outras pessoas, dar-lhes uma palavra de incentivo, um sorriso franco, desarmado, sem receio de ser tachado de doido, destinar-lhes um olhar de bondade que seja, muitas vezes exige de nós tamanho sacrifício que é como se fizéssemos mesmo uma longa viagem para aquela vida, em que, as circunstâncias que consideramos as mais absurdas são o que pode haver de mais corriqueiro. Daí ser tão complexa a vida do ser humano, sempre envolta em centenas de questões, milhares de problemas, dos quais só somos capazes de nos livrarmos na medida em que acessamos o mais obscuro do espírito, primeiro o nosso, para a partir dessa experiência termos consciência uns dos outros. O homem está sempre precisando de alguém que o salve, eis a sua desgraça — e a sua redenção.

A inauguração de uma barragem num vilarejo pobre do interior da Espanha junta a presidente Victoria Silvela, interpretada por Elena Irureta, e Alfonso Bravo, o candidato da oposição, de Gonzalo de Castro. Aos poucos, o roteiro de Olatz Arroyo começa a se movimentar em torno das muitas considerações acerca do submundo do expediente político, começando por transferir para Pablo Merino e Laura Vázquez as flechadas em direção à hipocrisia de homens e mulheres que deveriam nos representar, sem muita margem para subterfúgios que só obnubilam ainda mais o debate, como misoginia ou elitismo. 

Pablo, o lugar-tenente da personagem de Irureta,  é um homem jovem, mas patologicamente ambicioso e sem pejo de demonstrar seu menoscabo pelos mais pobres, um Jordan Bordella com mais tempero; já Laura é a gerente de comunicação da campanha de Bravo, alienada e simplória, fiel em sua crença de que a luta de classes é o único jeito de manter viva a chama da transformação social. Numa sequência logo na introdução, Juanlu González e Adriana Torrebejano esclarecem que é tolice esperar que saia algo de realmente proveitoso de qualquer um deles, que, qual a surpresa? apaixonam-se. O amor também é política, e na política deveria haver mais amor.


Filme: Politicamente Incorretos
Direção: Arantxa Echevarría
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Romance 
Nota: 8/10