Remake de um dos maiores suspenses psicológicos da história do cinema chega à Netflix Divulgação / Sony Pictures Releasing

Remake de um dos maiores suspenses psicológicos da história do cinema chega à Netflix

A despeito de uma direção precisa, segura, do roteiro cuidadoso e do elenco inspirado, quase nunca se consegue o mesmo ótimo efeito com um filme que se revisita anos depois. É o que se observa em “O Padrasto”, o remake de Nelson McCormick para o suspense psicológico de Joseph Ruben. Para que a história continue a demonstrar aquele vigor, aquele brilho e ainda faça algum sentido, faz-se necessário tomar providências que o diretor empurra com a barriga, justamente por considerar que a força de uma história de quase quatro décadas impor-se-á para um público novo, que pode recorrer a muitas outras alternativas, cheias de originalidade. Se em 1987 os cinemas eram a única opção para quem desejava apreciar enredos novos, 22 anos depois, quando McCormick lança a sua versão de “O Padrasto”, as plataformas de transmissão sob demanda são uma evidência inequívoca de que certos filmes envelhecem mal.

Afrontando a lógica, o racional quase nunca se nos mostra tão instigante quanto poderia, não nos encanta, não consegue, enfim, cavar espaço num cérebro feito de labirintos, que se bifurca, se afunila e dá margem a pensamentos que fogem a qualquer noção de ordem. Como não sabe querer, no momento mesmo em que manifesta uma vontade, a natureza humana já lança a semente da destruição. Refazendo os passos de Donald E. Westlake (1933-2008), o roteiro de Carolyn Lefcourt e J.S. Cardone mira em David Harris, o assassino em série interpretado por Dylan Walsh, que deixa para trás os cadáveres de sua esposa e filhos e parte para uma nova barbárie.

Tomando de deslocar-se até Portland, no Oregon, noroeste dos Estados Unidos, pagando todas as suas despesas em dinheiro vivo, o que estranhamente só vai ser alvo de suspeitas a certa altura da narrativa, quando já se instalou na casa de Susan Harding, a dona de casa que sobrevive a um divórcio cheio de mágoas com duas crianças vivida por Sela Ward. Harris chega até ela do jeito mais clichê possível, bastante previsível, numa sequência pasteurizada, cheia de açúcar, tornando-se mais frio ou mais quente a depender da vontade do público, e haja licença poética para que se aceite que um completo estranho tenha o condão de encantar uma mulher já experimentada e se case com ela em menos de seis meses, seduzindo todos a sua volta.

A grande, digamos, reviravolta aqui é a postura menos servil de Michael, o primogênito de Susan, que começa a desconfiar do novo marido da mãe sem que nenhum elemento oculto se revele, apenas graças a uma intuição poderosa. No desfecho, Walsh e Penn Badgley protagonizam boas cenas de embate físico, mas aí já é tarde demais. Não há muito a ser salvo nessa espécie de “A Mão Que Balança o Berço” (1992), o refinado terror de Curtis Hanson (1945-2016), com marmanjos.


Filme: O Padrasto
Direção: Nelson McCormick
Ano: 2009 
Gêneros: Terror/Suspense 
Nota: 7/10