Émile Durkheim, o renomado sociólogo francês, afirmou que o suicídio é uma das questões mais cruciais, dada sua complexidade sociológica, metafísica e religiosa. Superar nossos dilemas e fraquezas, transformando-as em algo que nos liberte da autopiedade e das emoções reprimidas, é fundamental para a experiência humana, conforme sugerido por Durkheim.
Mía, a protagonista de “Destinos à Deriva”, ilustra a pulsão de vida descrita por Freud. Sob a direção do catalão Albert Pintó, o filme tece um drama humanitário que ressoa com vários sucessos anteriores, incluindo “Náufrago” (2000) e “Gravidade” (2013).
A narrativa, que dura 109 minutos, detalha uma Espanha assolada por um regime que combate a falta de recursos vitais. Nesse cenário, Mía e seu namorado Nico tentam escapar, enfrentando privações e incertezas. A abertura do filme traz comentários sociológicos que quase se destacam como um segmento separado.
Os protagonistas, interpretados por Anna Castillo e Tamar Novas, passam por uma série de provações ao tentar fugir. Eles são forçados a entregar suas alianças antes de embarcar em um contêiner com outros emigrantes. A sorte deles é ditada por eventos imprevisíveis que os lançam ao mar, onde Mía inventa um sistema para sobreviver usando potes de plástico e escreve mensagens de socorro com uma caneta à prova d’água.
Apesar das possíveis falhas lógicas, o desfecho de “Destinos à Deriva” é uma metáfora poderosa sobre o recomeço, onde o Gênesis triunfa sobre o Apocalipse.
O filme, com seu roteiro de Indiana Lista, Ernest Riera e Miguel Ruz, faz menções a outros filmes de sobrevivência, mas destaca-se pelo comentário social e pelo retrato intenso das adversidades enfrentadas por Mía e Nico. A habilidade de Anna Castillo em dominar a ação, criando um novo universo em meio à desolação, é um dos pontos altos do longa.
A trama também oferece uma visão crítica sobre uma Espanha sem localização temporal precisa, que sofre com a escassez de recursos e implementa um plano rigoroso para combatê-la. Essa situação reflete as privações severas que os personagens enfrentam, adicionando uma camada de realismo ao drama.
“Destinos à Deriva” explora a perseverança humana frente às adversidades extremas. Pintó capta a essência da luta pela sobrevivência, utilizando elementos de suspense e tensão para manter o espectador envolvido. As atuações de Castillo e Novas são complementadas por uma narrativa visualmente rica, que transforma o ambiente desolador em um campo de batalha emocional.
Este filme é uma exploração profunda da condição humana, destacando a resiliência e a capacidade de superar obstáculos. A metáfora final de Pintó sugere que, mesmo diante do caos e da destruição, a vida sempre encontra uma maneira de renascer. “Destinos à Deriva”, na Netflix, é um tributo à indomável vontade de viver e à complexidade dos dilemas humanos que enfrentamos diariamente.
Filme: Destinos à Deriva
Direção: Albert Pintó
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Suspense
Nota: 8/10
