A história real do amor proibido que emocionou o mundo e fez as pessoas chorarem nos cinemas está na Netflix Divulgação / UPI

A história real do amor proibido que emocionou o mundo e fez as pessoas chorarem nos cinemas está na Netflix

Martin Luther King Jr. (1929-1968), o reverendo batista que alude ao poeta Langston Hughes (1901-1967), de “Let America Be America Again” (1935), na fúria santa de que era acometido quando conclamava seus irmãos de cor a se engajarem no movimento pela verdadeira libertação do povo negro na América, tinha um sonho. 

Em seu discurso mais famoso, King enunciou seu derradeiro manifesto público, em 4 de abril de 1967, exatamente um ano antes de ser assassinado, no qual, com alguma ironia, expunha as contradições e a perversidade de um sistema que classificava americanos segundo o tom de sua pele, não importando o quão honrados fossem ou o que quer que tivessem feito pelo progresso e pela glória dos Estados Unidos, aprisionando esses seres humanos em cárceres mentais que não raro materializavam-se e os mantinham fora do jogo da democracia.

 “Loving: Uma História de Amor”, o belo filme de Jeff Nichols, vai ainda mais fundo nos problemas raciais de seu país, alongando-se numa questão que deveria dizer respeito apenas à intimidade de dois adultos que resolvem juntar suas vidas, mas são obrigados a submeter seu amor a um Estado cruel, conjuntura que vem mudando ao longo de quase setenta anos, sem deixar de mostrar sua face medonha de tempos em tempos.

A população outrora chamada de cor nos Estados Unidos tem sofrido toda a sorte de preconceitos desde muito antes de 1958, quando Mildred Delores Jeter (1939-2008) e Richard Perry Loving (1933-1975) se apaixonam e decidem se casar numa Virgínia ainda francamente abalada pelas cisões políticas da Guerra Civil Americana (1861-1865). Mais de noventa anos depois da aprovação da 13ª Emenda, em 6 de dezembro de 1865, justamente nos estertores dos conflitos em que o Sul escravagista e o Norte, a favor da abolição, se enfrentaram, a América ainda sofria com a segregação racial entre negros e brancos, e 66 anos depois, continua a padecer desse mal. 

Negros enchem as ruas do país clamando por igualdade, um pleito que, lamentavelmente, já culminou no assassinato covarde do reverendo King, líder que pregava uma reação pacífica frente ao racismo, institucional, estrutural ou só ignorante mesmo. Nichols e a corroteirista Nancy Buirski (1945-2023) mergulha na jornada de indignação, luta e metamorfose social patrocinada por Mildred e Richard, nessa ordem, contando com as interpretações mediúnicas e tocantes de Ruth Negga e Joel Edgerton. Na Virgínia onde moravam Mildred, uma mulher negra, e Richard, um homem branco, não se admitiam casais de raças distintas. 

A solução encontrada pelos dois, até que a Suprema Corte entrasse no caso, foi passarem a viver em Washington DC, esperando pelo final ditoso, que veio, e no final, o amor até pode vencer, mas não sem largar um rastro de ódio, combatido com luta e sangue. O sangue de uma verdadeira heroína, que passa boa parte dos dias que lhe restam sem o amado, morto precocemente num acidente de carro, vítima de um motorista bêbado. O sangue de Richard nunca deixou de correr nas veias de Mildred, uma mulher amorosa.


Filme: Loving: Uma História de Amor 
Direção: Jeff Nichols
Ano: 2016
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 10