Aplaudida de pé no Festival de Cannes, história de amor real e revolucionária está na Netflix Divulgação / Talent One

Aplaudida de pé no Festival de Cannes, história de amor real e revolucionária está na Netflix

A ficção pode trazer histórias surpreendentes, mas a realidade pode ser ainda mais impressionante. As histórias de amor da vida real conseguem comover ainda mais, porque mostram que a resiliência e a força do amor verdadeiro existem para além das páginas dos livros e das cenas na televisão. Em “Loving”, conhecemos a história comovente do casal Richard e Mildred, que se casaram na Virgínia no fim da década de 1950, quando as leis racistas da época ainda proibiam casamentos inter-raciais.

Richard, interpretado por Joel Edgerton, e Mildred, vivida por Ruth Negga, acabam denunciados e presos. Condenados pelo tribunal estadual, eles são obrigados a se mudar para Washington D.C. para poderem desfrutar de seu relacionamento. A liberdade condicional, amparada pela lei anti-miscigenação, proibiu o casal de retornar juntos à Virgínia pelos próximos 25 anos.

No entanto, Richard e Mildred, sentindo-se infelizes por terem sido separados de seus familiares e do ambiente bucólico e seguro que sua cidade natal oferecia aos seus filhos, não conseguiam seguir adiante. Em Washington, as crianças eram obrigadas a brincar na rua, sob os riscos da cidade grande e a falta de conforto e segurança do campo. Mildred pediu ajuda à Justiça para recorrer da decisão, mas a resposta só veio anos mais tarde, quando recebeu uma ligação do advogado Bernie Cohen (Nick Kroll), em nome da ACLU, a American Civil Liberties Union, oferecendo representação legal e prometendo levar o caso à Suprema Corte.

O que se segue é um marco no avanço das leis dos direitos civis americanos. O reconhecimento da união legal de Richard e Mildred não apenas abriu precedentes, mas fez valer a 14ª Emenda da Constituição, que garantia e garante a igualdade de proteção a todos os americanos, garantindo, portanto, o direito ao casamento inter-racial.

Com belíssimas interpretações de Edgerton e Negga, o longa-metragem exprime com sucesso a mensagem do amor injustiçado e a revolução que sentimentos verdadeiros podem promover. Richard e Mildred não apenas conquistaram a própria liberdade para se amarem e viverem juntos, além de terem seus filhos reconhecidos como legítimos (porque eram considerados pelo Estado como bastardos), mas conquistaram também a liberdade para outras centenas de milhares de casais inter-raciais que se apaixonaram e se casaram nas décadas seguintes, provando que não há regras para o amor. Não há fórmulas. E Deus, ao contrário do que eles alegavam na época, jamais considerou absurdo o amor fora do padrão. Mildred não era apenas afro-americana, como também era metade Cherokee, por parte de pai.

Dirigido por Jeff Nichols, o longa-metragem, lançado em 2016, levou Negga a disputar o Oscar de Melhor Atriz no ano seguinte. Em Cannes, o filme concorreu à Palma de Ouro e foi aplaudido de pé após sua exibição.

Sem dúvidas, “Loving”, na Netflix, embora tenha sido aclamado pela crítica, merecia ainda mais reconhecimentos e premiações, não apenas pela história impactante, mas pela fantástica execução.


Filme: Loving: Uma História de Amor
Direção: Jeff Nichols
Ano: 2016
Gênero: Drama/Romace/Biografia
Nota: 10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.