Desligue o cérebro e apenas ria: comédia romântica para maiores de 18 anos acaba de chegar à Netflix Divulgação / Lionsgate Films

Desligue o cérebro e apenas ria: comédia romântica para maiores de 18 anos acaba de chegar à Netflix

O que poderia dar a história sobre um garoto amaldiçoado pela colega que nutre uma paixão não correspondida por ele, ao fim de uma brincadeira que nunca deveria ter passado de um episódio irrelevante? Poderia dar (e dá mesmo) em “Maldita Sorte”, um filme bizarro, quase divertido, quase cativante e sem pudores quanto a despertar os piores instintos em quem o assiste. 

Quanto mais correm os minutos, mais aumenta a sensação de desapontamento quanto a uma boa virada no roteiro de Steve Glenn e Josh Stolberg, ainda que o diretor Mark Helfrich tire da cartola as cenas que puxam a narrativa para um romance insólito, o que acaba por evitar uma calamidade ainda mais aterradora. Como sói acontecer nesses casos, as performances de Jessica Alba e Dane Cook, os atores principais de um enredo que nunca deixa de flertar com o caos, equilibram-se entre o desejo de chocar e a sensibilidade, em que pese esta amargar franca desvantagem em relação ao primeiro. 

O tempo passa, a vida revela o turbilhão de angústias com que nos aprisiona e chega o dia, mais cedo para uns do que para outros, em que nos damos conta de nossa inescapável solidão. Não é que depois de certa idade viramos feras amargas que só encontram sossego no breu de seus tugúrios, mas fica nitidamente mais difícil lidar com os problemas sempre tão complexos de quem nos rodeia, uma vez que nossas próprias questões não dão refresco. 

Haveria algum jeito de se reparar decisões erradas que, por terem mexido com a vida de outra pessoa de forma tão profunda, afeta nossa própria vida — ou o que resta dela — de um modo como nós mesmos jamais poderíamos imaginar? Em menos de um segundo passam-se décadas e já não parecemos mais tão novos; esperamos que alguém nos desperte antes de sair, e impeça que o sol se ponha nas nossas costas sem que possamos nos defender.

Depois do tal jogo em que se trocam verdades incômodas por prendas de cunho sexual, praticado por crianças de onze ou doze anos, Charlie Logan, o Chuck do título original, passa muito tempo sem inspirar o desejo de ninguém. Quando volta a ser cobiçado pelas mulheres, é um bem-sucedido dentista de uma cidade ensolarada da costa oeste, atendendo num consultório em frente à clínica de Stuart Klaminsky, o renomado cirurgião plástico e melhor amigo vivido por Dan Fogler. 

Boa parte do filme se espraia na relação dos dois, com Cook e Fogler numa boa parceria até os lances finais. Muito antes disso, entra em cena Cam Wexler, a tratadora de pinguins de Alba, por quem Charlie se apaixona, mas com quem não pode ficar, devido à maldição de há duas décadas. O desafio do personagem de Cook é vencer a praga e terminar com essa mulher tão cheia de surpresas — e sofrendo um pequeno acidente atrás do outro. Ele consegue, mas até lá meio mundo passa por sua cama, para espanto, inveja e riso de quem assiste. Mas a graça se vai logo.


Filme: Maldita Sorte
Direção: Mark Helfrich
Ano: 2007
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 7/10