Zac Efron, Robert Pattinson e Daniel Radcliffe são três exemplos de atores que, em decidindo por permanecer na carreira, entenderam que o mais prudente (e lógico) a fazer, mesmo que não fosse assim tão fácil, era renunciar à tranquila condição de galãs e descer às profundezas mais sombrias da alma humana.
Pattinson tomou um pouco de sol e se despiu da alvura doentia do vampiro Edward Cullen da série “Crepúsculo” (2008-2012), Radcliffe tirou a roupa e foi se testar em espetáculos quase herméticos a exemplo de “Equus” (2007), texto de Peter Schaffer (1926-2016) que arrastou multidões em Londres e se manteve um estrondoso sucesso na Broadway — a despeito de seus atributos físicos, que também não tiveram nada a ver com o recente Tony de Melhor Ator Coadjuvante em Musical, o Oscar do teatro americano, em reconhecimento a seu Charley Kringas em “Merrily We Roll Along” (1981), algo como “alegremente nós rolamos” em tradução literal, de Stephen Sondheim (1930-2021) e George Furth (1932-2008) —, e no caso de Efron em “Vizinhos”, a bela estampa foi começando, com muito jeito, a ceder espaço a sutilezas como capacidade de improvisação, nuanças na forma de dizer as falas e, o principal, inteligência emocional para entender o que o filme, muito longe de ser uma obra de arte, pretendia comunicar.
Talvez sua dedicação quanto a sufocar o galã Troy Bolton da franquia “High School Musical” (2006-2008), ou tipos dados a fanfarronadas, como neste trabalho, dirigido por Nicholas Stoller, tenha sido notada com mais atenção depois de seu louvável desempenho na pele do personagem-título de “Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal” (2019), de Joe Berlinger, o assassino em série das mulheres que namorava celebrizado nos anos 1970, e desaguou em composições ainda mais densas, caso de “Gold” (2022), de Anthony Hayes, momento em que assume sem medo a imagem de um torturado antigalã de barba espinhenta, cabelo em desalinho, fisionomia abatida e pele bexigosa.
O roteiro de Brendan O’Brien e Andrew Jay Cohen explora ao máximo o Efron óbvio. Teddy Sanders aparece sem camisa em 90% dos 97 minutos de projeção, fumando maconha, enchendo a cara e, claro, dando festas de arromba que tiram o sossego de toda a vizinhança na sede da fraternidade universitária. É aí que surgem Mac e Kelly Radner, pais de primeira viagem que se mudam, adivinhe, para uma casa a poucos metros daquela embaixada de Sodoma e Gomorra.
Todo o enredo passa a mover-se em torno das possíveis novas interações entre esses dois homens em pontos tão díspares de suas jornadas e da maneira que descobrem para equalizar os tantos incômodos de parte a parte. É engenhoso o modo de que Stoller se vale para colocar Efron e Seth Rogen no mesmo quadro, sem se esquecer de Rose Byrne, e num segundo momento o Pete de Dave Franco, confirmando a intenção de explicitar a dicotomia entre os “jovens” de um lado e os tiozões de outro — malgrado apenas cinco anos separem Teddy e Mac. Ainda assim, o improvável bromance de “Vizinhos” nos tapeia. E quem foi que pediu verdade?
Filme: Vizinhos
Direção: Nicholas Stoller
Ano: 2014
Gêneros: Comédia/Drama
Nota: 8/10