O filme com Denzel Washington que vale a assinatura da Netflix Divulgação / Sony Pictures

O filme com Denzel Washington que vale a assinatura da Netflix

Os sonhadores e idealistas da humanidade formam uma pequena fração comparada à maioria indiferente ou orgulhosa de seu alinhamento com o lado sombrio da vida. É difícil imaginar uma existência digna sem os poucos heróis que nos protegem das muitas armadilhas do mundo, um lugar frequentemente hostil aos ingênuos e de coração puro, sempre perseguidos pela maldade humana.

 Como enfrentar a dura realidade de que o mal domina grande parte das relações humanas, desde algumas famílias até ambientes de trabalho, metamorfoseando-se astutamente e influenciando nossos vínculos mais íntimos? Devemos nos retrair, como uma criatura assustada em sua concha, ou aceitar a dura verdade de que a honestidade é rara e nos lançar no escuro lago da falsidade, com medo de nos ferirmos em rochedos invisíveis?

Antoine Fuqua aborda essas questões em “O Protetor” (2014), através de seu protagonista, um herói cansado, mas ainda disposto a enfrentar conflitos que só homens como ele podem resolver. O roteiro de Richard Wenk explora detalhadamente a complexidade desse personagem singular, com passagens que cativam e desafiam o espectador, graças ao seu refinamento estético e profundidade filosófica.

Denzel Washington, como de costume, traz um brilho especial ao personagem, com uma interpretação precisa e envolvente, que contribui significativamente para o sucesso do filme em diversos aspectos. Seu talento excepcional transforma a narrativa em uma sequência de agradáveis surpresas, com subtramas habilmente desenvolvidas nas quais ele se insere magistralmente.

Fuqua utiliza habilmente o rico material fornecido por Wenk e supera as expectativas do público em relação à trama principal. No início, precedido por uma citação de Mark Twain, Robert McCall, o personagem introspectivo vivido por Washington, lembra Travis Bickle, o rancoroso motorista de táxi interpretado por Robert De Niro em “Taxi Driver” (1976), de Martin Scorsese.

Porém, logo depois, a percepção do público muda completamente: ao contrário de Bickle, McCall passa seu tempo livre refletindo sobre clássicos da literatura, como “O Velho e o Mar” de Hemingway, “Dom Quixote” de Cervantes e “O Homem Invisível” de H.G. Wells, mostrando um caráter incompatível com o caos sistêmico de Bickle. A jovem prostituta que entra em sua vida por acaso se torna uma confidente ocasional, buscando uma conversa tranquila antes de retomar seu trabalho. Teri, interpretada por Chloë Grace Moretz, oferece a melhor descrição de McCall, vendo nele um homem não exatamente triste, mas perdido.

Teri, cujo nome real é Alina, desperta em McCall um lado que ele pensava estar adormecido. Ao saber que a jovem foi brutalmente agredida — e a história se passa na Boston atual, não na Nova York dos anos 1970 de Scorsese — ele sente a necessidade de defendê-la, incapaz de agir de outra forma. O filme então apresenta algumas das mais bem coreografadas cenas de luta recentes, com Washington interpretando um implacável justiceiro que enfrenta sozinho uma gangue de russos, utilizando até um saca-rolhas como arma. Com um desfecho claramente feliz, “O Protetor” não se prende a racionalizações profundas. Em seus 132 minutos intensos, Denzel Washington reafirma seu status como um dos atores mais talentosos de Hollywood, mantendo a mesma energia vibrante de décadas atrás.


Filme: O Protetor
Direção: Antoine Fuqua
Ano: 2014
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 10