O thriller de Robert De Niro e Bradley Cooper na Netflix que vale a pena ver duas vezes Divulgação / Paramount Pictures

O thriller de Robert De Niro e Bradley Cooper na Netflix que vale a pena ver duas vezes

Todos já cruzamos com figuras que seduzem sem querer, que conseguem tudo quanto desejam com um sorriso, desmontando um semblante austero, resistente a princípio. Eddie Morra, o protagonista de “Sem Limites”, passa a experimentar as delícias de ser notado, bem-sucedido, rico e famoso não por exatamente por seus esforços e méritos, mas por conseguir uma pílula mágica que ilumina o salão escuro que é seu cérebro, e tira de lá os resíduos inúteis e tóxicos de uma vida tumultuada. 

Provavelmente Morra acabasse descobrindo um jeito de sair por si só das enrascadas que ele mesmo cria, mas pelo que Neil Burger dispõe em seu longa, parece que esse homem cheio de inquietações, malgrado conserve alguma doçura, tinha mesmo de se deparar com a saída gloriosa com que se lambuza, até que a sorte vira de novo. Olhos treinados não tardam a reconhecer no roteiro de Leslie Dixon, a partir de “The Dark Fields” (“os campos escuros”, em tradução literal), romance de Alan Glynn publicado em 2001, generosas pinceladas de “Flores para Algernon” (1959), a ficção científica e poética de Daniel Keyes (1927-2014) que Jeff Bleckner levou à tela em 2000. De qualquer maneira, “Sem Limites” é capaz de manter-se de pé e andar sozinho, graças a duas peças fundamentais.

Morra está prestes a se jogar do alto do prédio quando uma cena no apartamento ao lado o detém. Ele assinou um contrato com uma editora, como diz num misto de orgulho e desespero, mas esse aspirante a romancista padece de um bloqueio criativo que o tortura há semanas, ameaça cada mais próxima a seus planos de sucesso e fortuna. 

Burger elabora essa dicotomia de seu personagem central, um sujeito talentoso, mas dominado por uma desordem atávica a que não consegue dar nenhum freio, e o empurra ao acaso, que providencia o reencontro com Vernon, o ex-cunhado que não via há quase uma década interpretado por Johnny Whitworth. É ele quem lhe apresenta a tal superdroga que escancara suas percepções e o faz não apenas terminar o livro que sofria para escrever como permite que revele-se novos dons, o que o leva a encontrar uma fórmula matemática que garante boa margem de acerto em apostas — sem contar o próprio entorpecente, que se cair nas mãos da indústria farmacêutica, será a nova sensação no tratamento de quase todos os distúrbios cognitivos. 

Bradley Cooper faz de um tipo banal uma composição memorável, sobretudo quando o Carl Van Loon de Robert De Niro, um patrono diabolicamente ganancioso, entra em cena. “Sem Limites” é quase óbvio, quase esquecível, mas tem os lances geniais a que Cooper e De Niro conferem potência.


Filme: Sem Limites
Direção: Neil Burger
Ano: 2011
Gêneros: Thriller/Ficção científica
Nota: 8/10