O melhor filme de Val Kilmer está na Netflix e você certamente não assistiu Divulgação / Netflix

O melhor filme de Val Kilmer está na Netflix e você certamente não assistiu

Pouco sugere que “Felon” se transforme em um espetáculo kitsch de brigas entre homens musculosos, tentando suprimir a tensão sexual que os envolve como uma membrana que mantém viva uma célula doente, após uma introdução melodramática e farsesca onde um casal troca juras de amor e faz planos triviais.

Ao longo de sua carreira, Ric Roman Waugh aprimorou sua visão sobre o sistema prisional nos Estados Unidos, e este trabalho de 2008 oferece muitas respostas que levam a conclusões inevitáveis a partir de informações básicas, algumas mencionadas incisivamente por Waugh. O diretor prontamente desmantela qualquer esperança de milagres como regeneração ou reeducação, apresentando o drama de seu protagonista, um homem com sonhos de abrir seu próprio negócio, quitar a hipoteca da casa e ver seu filho crescer, mas que é tragicamente surpreendido pelos imprevistos da vida.

As histórias narradas por Waugh não manteriam seu apelo perversamente atual se não capturassem a atenção de audiências diversas. Filmado na Penitenciária Estadual do Novo México, perto de Santa Fé, no centro-oeste dos EUA, “Felon” se baseia em um evento real, com o diretor-roteirista buscando inspiração na brutalidade dos relatos sobre a fama da prisão para dar autenticidade ao filme, evitando ao máximo o sensacionalismo, mas reconhecendo a violência avassaladora que logo se torna a principal atração desse cenário de horrores.

O massacre silencioso que ocorreu atrás das paredes das celas durante a primeira metade dos anos 1990 permaneceu desconhecido do público até 1996, quando o “The Los Angeles Times” expôs a barbárie que vitimava cidadãos como Wade Porter, condenado por reagir contra um ladrão que invadiu sua casa. Porter, interpretado por um comovente Stephen Dorff, tenta escapar da punição excessiva contratando advogados de elite, mas acaba preso no menos desejado endereço do Novo México, sendo visitado ocasionalmente por sua esposa Laura, interpretada por Marisol Nichols, cada vez mais desalentada.

Waugh demonstra habilidade ao plantar elementos narrativos que confirmam a sina de seu personagem central, provocando a reflexão do público sobre quem realmente está certo ou errado. Em uma das valiosas sequências de confrontos entre detentos, o diretor transmite a angústia de Porter, forçado a se juntar a uma gangue neonazista para sobreviver.

Nesse momento, a real filosofia que sustenta todo o sistema penal americano é apresentada de maneira crua, com dados no último quadro de “Felon” apontando para uma população carcerária de mais de dois milhões e meio de presos — há uma clara discrepância, já que se fala em um aumento semanal de mil novos presos e, atualmente, o número permanece praticamente inalterado.

Os detentos são divididos não pela gravidade de seus crimes ou pelas conexões que possam ter mantido fora da prisão, mas pela cor de sua pele, justificando parcialmente a persistência do racismo estrutural nos Estados Unidos. Uma enfermidade cuja cura parece matematicamente impossível e indesejada por muitos.


Filme: Felon
Direção: Ric Roman Waugh
Ano: 2008
Gêneros: Drama/Policial
Nota: 8/10