Romance que você provavelmente não viu, com Harrison Ford e Kristin Scott-Thomas, na Netflix Divulgação / Columbia Pictures

Romance que você provavelmente não viu, com Harrison Ford e Kristin Scott-Thomas, na Netflix

Sydney Pollack, ao longo de sua carreira, destacou-se por explorar o amor em todas as suas facetas. Nos 42 filmes que dirigiu, o diretor sempre encontrava uma maneira de destacar a complexidade e os paradoxos do amor, capturando suas características mais ilógicas e, por vezes, destrutivas. Em “Destinos Cruzados”, Pollack utiliza um enredo que oscila entre o nonsense e a ingenuidade, refletindo bem sua capacidade de extrair o melhor de seus atores e de imbuir suas histórias com um lirismo que se reinventa a cada nova abordagem cinematográfica.

“Destinos Cruzados” não é o que aparenta ser em suas primeiras cenas. Pollack, com maestria, estabelece uma atmosfera noir, preparando o público para personagens sombrios e enigmáticos, fiel ao espírito do livro de Warren Adler, no qual o filme se baseia. As adaptações feitas por Darryl Ponicsan e Kurt Luedtke modernizam a história, ajustando-a aos 15 anos que se passaram desde a publicação do romance original. Mesmo com a inclusão de tecnologias que refletem a modernidade de um quarto de século atrás, a trama mantém seu charme, com momentos como um telefonema na calada da noite, que adiciona uma tensão constante ao enredo.

A trilha sonora, marcada pelos solos de saxofone de Dave Grusin, contribui para aumentar a aflição dos protagonistas, que se encontram apenas na transição do primeiro para o segundo ato. Até esse ponto, acompanhamos Bill van den Broeck, um policial sério tentando manter seu casamento com Peyton, interpretada por Susanna Thompson. As pistas deixadas pelos roteiristas deixam claro que esse relacionamento está destinado ao fracasso. Pollack, com habilidade, conecta o início da trama, focado em Van den Broeck, apelidado de Dutch, à tragédia que permeia sua vida, usando isso como um catalisador para mudanças significativas na história.

Harrison Ford, interpretando Van den Broeck, traz uma intensidade ao papel do policial durão, em alguns momentos lembrando Arnold Schwarzenegger, mas sem o elogio implícito. Quando o enredo principal se desenrola, cruzando o caminho de Kay Chandler, uma deputada republicana em meio a um escândalo pessoal que se transforma em um drama público durante sua campanha, o filme ganha uma nova dimensão. Apesar da subtrama repleta de insinuações, a narrativa não se torna leve, mas é conduzida de maneira que preserva as surpresas e reviravoltas, evitando que o filme se transforme em uma sátira da hipocrisia de figuras públicas.

Pollack, além de dirigir, participa ativamente do filme interpretando o conselheiro da viúva que Dutch tenta consolar, acrescentando um toque pessoal à história. Esses detalhes, embora sutis, enriquecem a trama, destacando o talento de Pollack em criar uma experiência cinematográfica envolvente.

“Destinos Cruzados” é um filme que examina a interseção de vidas em momentos de crise, utilizando o amor e a tragédia como temas centrais. A habilidade de Pollack em explorar a profundidade emocional de seus personagens e em tecer uma narrativa complexa, mas acessível, faz deste filme uma adição significativa ao seu legado. Ao longo da história, vemos como os personagens lidam com suas perdas e buscam redenção, cada um à sua maneira, em meio às circunstâncias adversas que os cercam.

O filme também destaca a fragilidade das relações humanas e a forma como o destino pode alterar irreversivelmente o curso de nossas vidas. Pollack, com sua abordagem sensível e perspicaz, oferece ao público uma reflexão sobre as complexidades do amor e da perda, e como esses elementos moldam nossas experiências e decisões.

Através de “Destinos Cruzados”, na Netflix, Sydney Pollack reafirma seu talento em criar histórias que ressoam com autenticidade e profundidade emocional, convidando o espectador a uma jornada introspectiva sobre os desafios e as recompensas do amor verdadeiro. A capacidade de Pollack de capturar a essência da condição humana em suas múltiplas dimensões faz deste filme uma obra relevante e tocante, que permanece atual e impactante, mesmo diante das mudanças nas linguagens e estilos cinematográficos ao longo dos anos.


Filme: Destinos Cruzados
Direção: Sydney Pollack
Ano: 1999
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10