A postura oficial de uma nação contra outra, mesmo que soberana e criticada por muitos, abre um abismo de incerteza global, reduzindo a frágil distância entre civilização e barbárie. A decisão de declarar guerra é complexa, cheia de implicações éticas e questionamentos humanitários. No entanto, em certas circunstâncias, pode ser a única forma de evitar a irrelevância histórica e a desonra, uma lição que Winston Churchill, primeiro-ministro britânico durante a Segunda Guerra Mundial, nos deixou. A guerra, apesar de sua perversidade, fascina pela criação de heróis, figuras destacadas que, através de atos corajosos, se tornam símbolos históricos.
David Ayer, ao longo de sua carreira, especializou-se em histórias de conflito humano, um tema que resiste ao tempo e ao progresso moderno. Em “Corações de Ferro” (2014), ele explora a Segunda Guerra Mundial através de uma perspectiva única, destacando tanto os aspectos superficiais quanto os profundos desse conflito, tudo isso com um elenco talentoso que compreende plenamente a complexidade da narrativa.
Brad Pitt, com sua performance notável em “Bastardos Inglórios” (2009), foi a escolha ideal de Ayer para protagonizar “Corações de Ferro”. Pitt, encarnando Don Collier, conhecido como Wardaddy, assume o papel de um líder veterano que guia seus homens com autoridade e cuidado. Sua presença no filme é tanto uma homenagem ao seu papel anterior quanto uma passagem de bastão para uma nova geração de personagens.
A narrativa de “Corações de Ferro” se passa após o Dia D, o desembarque das tropas aliadas na Normandia em junho de 1944, durante os últimos meses da guerra. Wardaddy e seu pelotão, que lutaram juntos desde o norte da África, avançam para o coração da Alemanha. Cada soldado tem um apelido marcante: Boyd Swan, ou Bíblia, um artilheiro devoto; Trini García, o Gordo, motorista do tanque Fury; Grady Travis, o mecânico apelidado de Coon-Ass; e Norman Ellison, o novo integrante, um datilógrafo inesperadamente lançado no campo de batalha.
Logan Lerman, interpretando Ellison, traz uma hesitação autêntica ao seu personagem, refletindo o medo e a inexperiência de alguém deslocado para a linha de frente. A interação do pelotão com as irmãs alemãs Emma e Irma, interpretadas por Alicia von Rittberg e Anamaria Marinca, oferece um respiro poético em meio ao horror da guerra, preparando o público para um desfecho inevitável.
Wardaddy lidera seus homens com uma mistura de dureza e cuidado paternal, sempre pronto para cumprir ordens e proteger seu pelotão. As sequências de combate são visceralmente realistas, capturando a brutalidade do confronto. Em uma dessas missões, Wardaddy e seus homens enfrentam desafios intransponíveis, culminando em uma conclusão amarga. O sacrifício de Wardaddy solidifica seu papel como líder, enquanto Ellison se prova um sucessor digno.
“Corações de Ferro” reflete a dualidade da guerra: uma fonte de horror e uma forja de heróis. David Ayer, com sua abordagem meticulosa e respeito pelos detalhes históricos, entrega uma narrativa que, embora enraizada em violência e sofrimento, também revela momentos de humanidade e camaradagem. A jornada do pelotão de Wardaddy, marcada por coragem e sacrifício, oferece um retrato profundo e emocionante de um dos períodos mais sombrios da história moderna.
A obra de Ayer, apoiada por performances sólidas de um elenco dedicado, transforma “Corações de Ferro”, na Netflix, em uma exploração cativante e perturbadora da Segunda Guerra Mundial. O filme destaca não apenas a brutalidade da guerra, mas também a resiliência do espírito humano diante de adversidades insuperáveis.
Filme: Corações de Ferro
Direção: David Ayer
Ano: 2014
Gêneros: Guerra/Drama/Ação
Nota: 9/10