Drama com Keanu Reeves, na Netflix, que você talvez não tenha visto ainda Gilles Mingasson / Netflix

Drama com Keanu Reeves, na Netflix, que você talvez não tenha visto ainda

Reuniões são frequentemente tediosas, limitadoras e frustrantes. Para tornar a situação ainda mais desafiadora, a humanidade criou associações de moradores, sindicatos, clubes, partidos políticos e torcidas organizadas. Esses grupos se reúnem para discutir problemas que eles próprios criam, crises fabricadas e a falsa luta de classes que gera desigualdades ainda mais severas. Líderes astutos enxergam a oportunidade de criar dificuldades para vender soluções, buscando ascender socialmente ou simplesmente causar tumulto. Isso se assemelha à entidade Sobrenatural de Almeida, mencionada por Nelson Rodrigues, que parece atuar contra o time que não pode perder, o nosso.

“O Mínimo Para Viver”, um drama notável escrito e dirigido por Marti Noxon, gira em torno de uma dessas tentativas desesperadas de encontrar uma solução para um problema nada trivial e nada glamouroso. Distúrbios alimentares, que afetam tanto homens quanto mulheres, sendo que as mulheres aparecem em número significativamente maior. Mais de quatrocentos milhões de pessoas no mundo sofrem com essas condições, com a maioria sendo jovens de até vinte anos.

O caso de Karen Carpenter (1950-1983) é emblemático quando se pensa em celebridades que sucumbiram a distúrbios alimentares. A cantora, famosa por sua voz na dupla que formava com seu irmão Richard, foi uma das primeiras diagnosticadas com anorexia nervosa e morreu aos 32 anos devido a insuficiência cardíaca, uma complicação comum da doença. Sua morte chamou a atenção do mundo para a anorexia, levando a comunidade médica, psicólogos e a sociedade a se engajar no combate a esse mal por meio de medicações, terapias e campanhas de conscientização.

No entanto, o roteiro de Noxon não menciona Karen Carpenter ou outras personalidades que enfrentaram distúrbios alimentares. A protagonista, Ellen, interpretada por Lily Collins, provavelmente nunca ouviu falar da cantora, mas reconhece que algo está profundamente errado em sua vida. Ellen é apresentada como uma jovem cheia de complexos, muitos dos quais têm fundamentos. Um trauma familiar desencadeia seu isolamento e depressão, levando-a a encontrar na magreza extrema uma forma de aliviar seu tormento.

Ellen, insegura e triste, recorre à anorexia como último refúgio. Sua madrasta, Susan (Carrie Preston), tenta um método ainda não explorado, dando ao filme o impulso necessário. Keanu Reeves, no papel de William Beckham, o psiquiatra do abrigo que trata pacientes com anorexia e bulimia, traz uma combinação de ciência e empatia ao filme. Embora o filme flerte com clichês e quase se torne uma imitação de “Garota, Interrompida” (1999), ele consegue se redimir, especialmente pela subtrama do romance entre Ellen (que passa a se chamar Eli) e Luke, interpretado por Alex Sharp.

Luke, um bailarino e outro paciente no abrigo, também luta contra um distúrbio alimentar e oferece uma visão didática sobre o problema, que também afeta homens e é frequentemente envolto em discriminação. A história de Ellen e Luke mostra a complexidade e a profundidade dos distúrbios alimentares e suas implicações emocionais e sociais.

Ao assistir “O Mínimo Para Viver”, na Netflix, torci fervorosamente para que nenhum personagem morresse, envolvido pela força da história e desejando que Ellen encontrasse a paz. No final, há um vislumbre de esperança. Ellen parece começar a se aceitar e a encontrar um novo sentido para sua vida. Se ela realmente aprendeu a lição, talvez descubra que é possível viver sem estar à mercê da morte. Que ela e todos nós possamos encontrar a vida com um pouco mais de apetite e menos temor do fim inevitável.


Filme: O Mínimo Para Viver
Direção: Marti Noxon
Ano: 2017
Gênero: Drama
Nota: 8/10